Uma cena bem plausível de ter acontecido em algumas cidades do interior
do país, especialmente há algumas décadas – pois nos dias que correm as coisas
já estão para lá de avançadas e ninguém, absolutamente, deixa de saber o que se
passa na ordem do dia, aqui como no outro lado do planeta, quase em tempo real.
Mas há certa morosidade no correr do tempo, em meio às ruelas e praças
principais de cidadezinhas perdidas deste imenso torrão, antes como agora, que
não deixa apagar determinados ranços de coronelismo, por parte dos que, de um
jeito ou de outro, acabam por assenhorear-se do poder constituído, para fazer valer
as suas próprias vontades – e não as do povo, conforme se depreende da Carta
Magna de Pindorama.
J.A.R. – H.C.
Vista de uma pequena
praça da cidade
(Jan van der Heyden:
pintor holandês)
Impressões de uma cidade do interior
Aos domingos
há várias missas.
Os homens bem
colocados
vão a todas elas
e ficam à porta da
igreja
falando de bois.
As mocinhas expõem
suas roupas
e movem os lábios
observando as roupas
das outras mocinhas.
O padre ataca o
espiritismo
e o comunismo.
Ninguém sabe o que
isso é,
mas o padre ensina.
Na hora da elevação
do santíssimo
o irmão continua
elevando
a saquinha santinha
pelas obras da
matriz.
A última moda é véu
de nylon,
todas usam.
As velhas beatas
ainda usam véus de crochet
atrasadonas.
Terminou a missa,
Deus está contente.
Saem todos confortados,
confessados, comungados,
limpos, completamente
preparados
para pecar.
A cidade de Dordrecht
(Eugène Boudin:
pintor francês)
Referência:
JOÃO, Alberto. Impressões de uma cidade
do interior. In: SANT’ANNA, Affonso Romano de et al. Violão de rua. V. II. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira,
1962. p. 20. (“Cadernos do Povo Brasileiro”; Volume Extra)
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