Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 1 de julho de 2014

Rumi – A Evolução da Forma

Para quem aprecia a beleza dos poemas sufistas do poeta e pensador Rumi, transcrevo nesta postagem uma de suas mais famosas poesias, “A Evolução da Forma”, a sublinhar a perenidade da alma, enquanto em trânsito pelas mais diversas modalidades em que poderá se incorporar à natureza, até que tenha cumprido a sua jornada, quando então retornará como um “anjo”.

No cerne dessas criações extáticas, alheadamente a considerações de tempo, lugar ou cultura, sobressai uma imaginação fértil, capaz de combinar riqueza mística e ousadas adaptações de formas poéticas.

Enquanto isso, indago silenciosamente aos meus botões, depois de meditar sobre o poema que ora seleciono: quando estarei por aqui sob forma “angelical”? Por quantos mundos ainda terei que trafegar? (rs).

J.A.R. – H.C.
Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)

A Evolução da Forma

Toda forma que vês
tem seu arquétipo no mundo sem-lugar.
Se a forma esvanece, não importa,
permanece o original.

As belas figuras que viste,
as sábias palavras que escutaste,
não te entristeças se pereceram.

Enquanto a fonte é abundante,
o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum dos
dois se detém?

A alma é a fonte,
e as coisas criadas, os rios.
Enquanto a fonte jorra, correm os rios.
Tira da cabeça todo o pesar
e sorve aos borbotões a água deste rio.
Que a água não seca, ela não tem fim.

Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti,
para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode ser isto segredo para ti?

Finalmente foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo – um punhado de pó –
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

Passa de novo pela vida angelical,
entra naquele oceano,
e que tua gota se torne mar,
cem vezes maior que o Mar de Oman.

Abandona este filho que chamas corpo
e diz sempre “Um” com toda a alma.
Se teu corpo envelhece, que importa?
Ainda é fresca tua alma.

Cobblestone Bridge
(Thomas Kinkade: 1958-2012)

Referência:

RUMI, Jalal ud-Din. A evolução da forma. Tradução de José Jorge de Carvalho. In: __________. Poemas místicos: Divan de Shams de Tabriz. Seleção, tradução e introdução de José Jorge de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Attar, 2010. p. 66-67.

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