Muitos aqui já são os poemas – a maior parte sob a forma de soneto,
afinal, o molde para a lide poética a que Camões devotou-se à perfeição –, em
homenagem ao vate maior lusitano, e não só entre autores que redigem seus
textos no idioma português, como também em outras línguas.
Como exemplo, extasie-se o leitor com o belo poema abaixo, de autoria do
escritor sul-africano de origem escocesa-irlandesa Roy Campbell, que encontrei
na obra em referência: o autor se imagina em companhia de Camões, e sobre ele
tece considerações empáticas, num cenário que muito lembra as regiões
pantanosas do litoral africano.
J.A.R. – H.C.
Roy Campbell
(1901-1957)
Luís de Camões
Camões, alone, of all
the lyric race,
Born in the black
aurora of disaster,
Can look a common
soldier in the face:
I find a comrade
where I sought a master:
For daily, while the
stinking crocodiles
Glide from the
mangroves on the swampy shore,
He shares my awning
on the dhow, he smiles,
And tells me that he
lived it all before.
Through fire and shipwreck,
pestilence and loss,
Led by the ignis fatuus (*) of duty
To a dog’s death –
yet of his sorrows king –
He shouldered high
his voluntary Cross,
Wrestled his
hardships into forms of beauty,
And taught his gorgon
destinies to sing.
Camões
(1524-1580)
(Retrato por Fernão
Gomes
em cópia de Luís de
Resende)
Luís de Camões
De toda a estirpe
lírica, tão somente Camões,
Nascido na enegrecida
alvorada do desastre,
Permite-se olhar de
frente um ínfero soldado:
Não um mestre, senão
um confrade encontro.
Vogam pelos
manguezais na costa pantanosa,
Ele compartilha meu
toldo na nau e, sorrindo,
Confidencia-me que já
vivera tudo isso antes.
Entre incêndios e
naufrágios, pestes e perdas,
Pelo desígnio ilusório
de servir, vocacionado
A uma morte de cão, rei
de suas dores porém,
Levantou aos píncaros
a sua cruz voluntária,
Apreendeu as
privações em formas de beleza,
E ministrou à sua
Górgona destinos a cantar.
Nota:
(*) “Ignis fatuus”, expressão latina, a
rigor teria em “fogo fátuo” uma tradução mais literal, embora tenha preferido
vertê-la ao português pelo seu significado.
Referência:
CAMPBELL, Roy. Luís de Camões. In: __________.
The Collected Poems of Roy Campbell.
1st. publ. Lodon, EN: The Bodley Head, 1949. p. 159.
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Conheci o blog do J.A. Rodrigues nesta data, pois escrevo um texto sobre Roy Campbell na minha Camoniana Digital e o buscador encaminhou para o "castorp". Quero externizar minha admiração pelo belo trabalho que esse colega da Engenharia vem realizando já há algum tempo. Parabéns de verdade e cheio de admiração por sua pessoa, apesar de não conhece-lo pessoalmente. Vc juntou em duas páginas do seu Blog muitos camonistas famosos que somente que estuda Camonologia é que conhece. Lindo trabalho...rico trabalho...gostaria de poder trocar algumas palavras com vc para saber um pouco mais de sua biografia, pois já o lancei em meu Catálogo Digital de Camonistas, obra em que trabalho há 15 anos, depois que perdi minha Camoniana de "verdade".
ResponderExcluirPrezado Alfarelense Camonista,
ExcluirMuito grato pelas palavras.
Você pode entrar em contato comigo pela minha conta de e-mail: goodman_358@protonmail.com
Atenciosamente,
João A. Rodrigues