Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Yehuda Amichai - Jacó e o Anjo

A cena bíblica em que Jacó luta até o amanhecer com o anjo do Senhor é a metáfora de onde o poeta judeu torna a invocar o embate entre o sagrado e o profano, melhor dizendo, o carnal, plenamente manifesto na relação entre homem e mulher, decerto muito casual, sem nada de sério, mesmo porque cada um alheio ao nome do outro.

Ao final, há uma inversão em relação ao enredo do Gênesis, quanto ao nome que, derradeiramente, dá-se por conhecido: ali, é o anjo que pergunta a Jacó o seu nome, passando a denominá-lo Israel, sendo então liberado por Jacó para partir. Mas aqui, o anjo – por sinal, a mulher – é que vem a ser chamado pelo nome por alguém no andar superior, quando então o parceiro permite que ele (ou melhor, ela) se vá.

J.A.R. – H.C.

Yehuda Amichai
(1924-2000)

Jacó e o Anjo

Antes do amanhecer ela suspirou e o prendeu
daquele jeito, e o venceu.
Ele a prendeu daquele jeito, e a venceu,
ambos sabiam que o prender
traz a morte.
E evitaram pronunciar um o nome do outro.

Mas à primeira luz da manhã
ele viu o corpo dela.
Que permanecia branco,
nos pontos cobertos ontem
pelo maiô.

Depois chamaram-na de repente lá de cima,
duas vezes.
Como se chama uma menina
que brinca no pátio.
Ele soube o nome dela e a deixou partir.

Jacó Lutando com o Anjo
(Gustave Doré: ilustrador francês)

Referência:

AMICHAI, Yehuda. Jacó e o anjo. Tradução de Moacir Amâncio. In: __________. Terra e paz: antologia poética. Organização e tradução de Moacir Amâncio. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2018. p. 71.

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