Por muito que se faça para melhorar o mundo, muito se tem ainda a fazer,
tornando qualquer empresa humana algo sumariamente limitado na escala de décadas
ou centúrias. E sendo esta uma experiência que é mera figuração de uma outra
ideal, no plano da metafísica platônica, mais limitada ficaria a atribuição de
um sentido absoluto aos nossos esforços em vida.
Seria a dúvida sobre se a vida conteria algum sentido ou propósito,
levando o poeta a apor um “E daí?” a cada término de ação: a realização
profissional, o cumprimento da missão familiar – de filho(a), irmão(ã), esposo(a)
–, e, ao fim, o convergir para uma velhice onde as dúvidas podem se tornar
ainda mais tormentosas.
J.A.R. – H.C.
W. B. Yeats
(1865-1939)
What Then?
His chosen comrades
thought at school
He must grow a famous
man;
He thought the same
and lived by rule,
All his twenties
crammed with toil;
‘What then?’ sang Plato’s ghost. ‘What
then?’
Everything he wrote
was read,
After certain years
he won
Sufficient money for
his need,
Friends that have
been friends indeed;
‘What then?’ sang Plato’s ghost. ‘ What
then?’
All his happier
dreams came true -
A small old house,
wife, daughter, son,
Grounds where plum
and cabbage grew,
poets and Wits about
him drew;
‘What then.?’ sang Plato’s ghost. ‘What
then?’
The work is done,’
grown old he thought,
‘According to my
boyish plan;
Let the fools rage, I
swerved in naught,
Something to
perfection brought’;
But louder sang that ghost, ‘What
then?’
O que vem depois
(David F. Moussallem:
pintor canadense)
E daí?
Na escola achava,
cada amigo mais chegado,
que ele viria a ser
um homem celebrado;
pensando o mesmo, ele
viveu com esse humor,
fartando os seus
vinte anos de labor;
“E daí?” “E daí?” – cantou o fantasma
de Platão.
Tudo o que ele
escreveu, tudo foi lido;
Depois de certos anos
tinha já obtido
dinheiro suficiente
para sua precisão,
e amigos que deveras
foram seus amigos;
“E daí?” “E daí?” – cantou o fantasma
de Platão.
Seus sonhos mais
felizes realizaram-se:
uma velha casinha;
esposa, filha; um filho ele houve,
e em seu quintal
cresciam ameixeira e couve;
poetas e intelectuais
juntavam-se-lhe à mão;
“E daí?” “E daí?” – cantou o fantasma
de Platão.
“A obra está feita”,
pensou ele, envelhecido,
“segundo o que em
menino dei por decidido;
que os tolos raivem,
eu não me desviei em nada,
alguma coisa eu
trouxe à perfeição”;
‘‘E daí?” – cantou mais alto a sombra
de Platão.
Nota do Tradutor:
O poema, escrito em 1936 para The Erasmian, foi chamado por Yeats “um
melancólico poema biográfico”. John McNeill, seu professor na High School,
dizia que, durante uma longa conversa, o estudante Yeats “lhe confidenciara
todos os seus planos para o futuro quanto a escrever e recitar poesia – planos
a que se agarrou com firmeza e realizou plenamente”.
A conclusão a se tirar do poema é que a
capacidade humana é limitada diante da infinita possibilidade, como aponta
Tuohy; ou então, digamos, que uma perfeição não exclui muitas outras. Ou ainda,
como quer Ellmann, o refrão, platonicamente, duvida da realidade essencial do
que foi feito.
Referência:
YEATS, W. B. What then? / E daí?.
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Poemas de W. B. Yeats. Tradução,
introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Art
Editora, 1987. Em inglês: p. 152; em português: p. 153.
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