Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Affonso Romano de Sant’Anna - Estou dizendo para esta lagartixa

Afora o homem, que se atormenta com a passagem do tempo, os outros animais, a flora e o reino mineral passam ao largo de preocupações sobre a impermanência das coisas do mundo, ou melhor, o fato de que um dia deixarão de existir – para dar vez a outros seres que a eles se assemelhem –, não se lhes assoma como tema de ruminação mental.

Planos para o futuro é o que o poeta espera ver no agir da formiga, da lagartixa; no existir dos objetos da sala, em seus haveres pessoais: mas eles não entram em pânico se algo lhes assalta. Viver segundo os planos da natureza é tudo de que dispõem para usufruírem o momento e serem felizes, cada um à sua maneira.

J.A.R. – H.C.

Affonso Romano de Sant’Anna
(n. 1937)

Estou dizendo para esta lagartixa

Estou dizendo para esta lagartixa
na parede do meu quarto
que o século vai acabar
mas ela não me olha
nem me entende.

Já tentei falar com a formiga
com a aranha
fui ao limoeiro da horta
e ninguém liga.

Olho os objetos da sala
minhas coisas no escritório (os óculos)
e no quarto (os sapatos).

Todos indiferentes.

Não estão em pânico
não devem nada
e não têm planos.

O tempo é mesmo
uma doença humana.

O Homem em Desespero
(Gustave Courbet: pintor francês)

Referência:

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Estou dizendo para esta lagartixa. In: __________. Vestígios. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 2005. p. 15.

2 comentários:

  1. QUERIDO AFFONSO ROMANO,
    Gostaria que soubesse que além de seu grande admirador, faço da sua Tese de Drummond, Gauche no Tempo, minha verdadeira Bíblia de cabeceira. Fui amigo do velho Luiz Affonso Pedreira, um do seus afetos antigos de Juiz de Fora e amigo que trago eternamente me meu coração, pela nobreza de alma e sentimento. Com ele, uma vez, no espaço Mascarenhas, da Funalfa/Juiz de Fora, assistimos a uma apresentação sua do seu precesso literário, etc., quando fui o único a meter a colher-de-opau na sua fala, mas apenas para dizer-lhe como o admirava e venerava sua Tese sobre Drummond, de quem fui amigo ,aí no Rio. Guardo dele dezenas e dezenas de cartinhas pra mim, o que transformei num álbum que já provocou inveja e ciúmes até em gente douta aí do Rio. Pois bem, agora, gostaria de exibir-me um pouco, enviando-lhe modesto mas amplo texto, publicado esta semana em alguns Blogs de amigos, por aí, falando um pouco da figura do notável ALDIR BLANC.Assim, rogando sua indulgência, tomo a liberdade de encaminhá-lo a você, com minhas desculpas antecipadas pela temeridade dessa atitude, já que não sou nenhum escritor nem tenho qualquer importância no cenário cultural nemm sequer do condomínio onde moro,aqui pertinho do parque Halfeld.
    Basta você descer um pouco abaixo da pintura do Magritte para lê-lo. Chama-se 'ALDIR BLANC, UMA DOR ASSIM PUNGENTE". Está bem ilustrado e tem nele até um bilhetinho do João Bosco para mim, o que muito me envaidecu.
    Grande abraço, com meus votos de paz e saúde,
    Nelson Bravo (76 anos - Juiz de Fora)
    F- 32- 3233-2602
    Rua Santo Antonio, 1098 - Bl. 2 - ap.1006 - Cond. Resi,. Jardim dos Manacás
    https://dartelondrina.files.wordpress.com/2020/07/revista_d_arte_londrina_ed_final_publicar.pdf

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  2. Prezado Nelson: Li a sua bela narrativa sobre a vida, a obra e a perda irreparável do grande compositor Aldir Blanc. As suas letras, verdadeiros poemas, ficarão para sempre, tanto mais que embaladas pelo ritmo síncrono de distintas melodias. Muito grato por essa reverência a quem não merecia o descaso que lhe foi dirigido pelas autoridades maiores deste país.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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