Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Robert Graves - A Fria Teia

Segundo Graves, sem a linguagem o homem estaria inerme, indefeso frente à realidade, pois é a linguagem que – com sua teia, rede, trama, enredo, malha –, suscita a congregação dos humanos, tornando o enfrentamento das durezas da vida muitas vezes menos oprimente.

As crianças – por ainda não haverem dominado o idioma dos pais – seriam um exemplo imediato a ilustrar o problema de não se ter um meio linguístico mais apurado para se expressar o que se sente, física e mentalmente, ou, ainda, discorrer sobre ideias e teorias capazes de explicar os fenômenos do mundo.

Quem possui a linguagem é capaz de capturar a realidade: basta ver as dificuldades por que passa uma pessoa com um vocabulário mais limitado, para exteriorizar pensamentos ou sentimentos um pouco mais complexos. Veja-se, a propósito, a pobreza verbal do atual presidente de Pindorama: um fato inexplicável para quem foi parlamentar por quase 3 (três) décadas na Câmara de Deputados – uma Casa que, por precedência, tem a palavra como meio de expressão mais do que necessário!

J.A.R. – H.C.

Robert Graves
(1895-1985)

The Cool Web

Children are dumb to say how hot the day is,
How hot the scent is of the summer rose,
How dreadful the black wastes of evening sky,
How dreadful the tall soldiers drumming by.

But we have speech, to chill the angry day,
And speech, to dull the rose’s cruel scent.
We spell away the overhanging night,
We spell away the soldiers and the fright.

There’s a cool web of language winds us in,
Retreat from too much joy or too much fear:
We grow sea-green at last and coldly die
In brininess and volubility.

But if we let our tongues lose self-possession,
Throwing off language and its watery clasp
Before our death, instead of when death comes,
Facing the wide glare of the children’s day,
Facing the rose, the dark sky and the drums,
We shall go mad no doubt and die that way.

O Camarote
(Mary Cassatt: pintora norte-americana)

A Fria Teia

Mudos são os infantes para dizer quão quente está o dia,
Quão ardente é o perfume da rosa durante o estio,
Quão pavoroso os negros desertos do céu noturno,
Quão temíveis os enormes soldados a soar tambores.

Mas nós temos a fala, para refrescar o dia abrasador,
A fala, para tornar mais tênue a cruel fragrância da rosa,
Soletrando-a, afastamos a noite que se projeta hostil,
Soletrando-os, distanciamos os soldados e o temor.

Há uma fria teia de linguagem a nos circundar,
Resguardando-nos do excesso de alegria ou de medo:
Assumimos por fim um pálido verde-azulado e finamos,
Fria, salobra e voluvelmente.

Mas se deixarmos nossas línguas perderem seu autodomínio,
Tal que se desfaçam a linguagem e o seu vínculo aquoso
Antes de nossa morte, em vez de quando a morte chegar,
Diante do intenso brilho do dia dos infantes,
Diante da rosa, do céu escuro e dos tambores,
Sem dúvida nos tornaremos loucos e assim morreremos.

Referência:

GRAVES, Robert. The cool web. In: KERSNOWSKI, Frank L. The early poetry of Robert Graves: the goddess beckons. 1st. ed. Austin, TX: University of Texas Press, 2002. p. 157.

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