Segundo Graves, sem a linguagem o homem estaria inerme, indefeso frente
à realidade, pois é a linguagem que – com sua teia, rede, trama, enredo, malha –,
suscita a congregação dos humanos, tornando o enfrentamento das durezas da vida
muitas vezes menos oprimente.
As crianças – por ainda não haverem dominado o idioma dos pais – seriam
um exemplo imediato a ilustrar o problema de não se ter um meio linguístico
mais apurado para se expressar o que se sente, física e mentalmente, ou, ainda,
discorrer sobre ideias e teorias capazes de explicar os fenômenos do mundo.
Quem possui a linguagem é capaz de capturar a realidade: basta ver as
dificuldades por que passa uma pessoa com um vocabulário mais limitado, para
exteriorizar pensamentos ou sentimentos um pouco mais complexos. Veja-se, a
propósito, a pobreza verbal do atual presidente de Pindorama: um fato
inexplicável para quem foi parlamentar por quase 3 (três) décadas na Câmara de
Deputados – uma Casa que, por precedência, tem a palavra como meio de expressão mais do que necessário!
J.A.R. – H.C.
Robert Graves
(1895-1985)
The Cool Web
Children are dumb to
say how hot the day is,
How hot the scent is
of the summer rose,
How dreadful the
black wastes of evening sky,
How dreadful the tall
soldiers drumming by.
But we have speech,
to chill the angry day,
And speech, to dull
the rose’s cruel scent.
We spell away the
overhanging night,
We spell away the
soldiers and the fright.
There’s a cool web of
language winds us in,
Retreat from too much
joy or too much fear:
We grow sea-green at
last and coldly die
In brininess and
volubility.
But if we let our tongues
lose self-possession,
Throwing off language
and its watery clasp
Before our death,
instead of when death comes,
Facing the wide glare
of the children’s day,
Facing the rose, the
dark sky and the drums,
We shall go mad no
doubt and die that way.
O Camarote
(Mary Cassatt:
pintora norte-americana)
A Fria Teia
Mudos são os infantes
para dizer quão quente está o dia,
Quão ardente é o
perfume da rosa durante o estio,
Quão pavoroso os
negros desertos do céu noturno,
Quão temíveis os enormes
soldados a soar tambores.
Mas nós temos a fala,
para refrescar o dia abrasador,
A fala, para tornar
mais tênue a cruel fragrância da rosa,
Soletrando-a,
afastamos a noite que se projeta hostil,
Soletrando-os,
distanciamos os soldados e o temor.
Há uma fria teia de linguagem
a nos circundar,
Resguardando-nos do
excesso de alegria ou de medo:
Assumimos por fim um
pálido verde-azulado e finamos,
Fria, salobra e
voluvelmente.
Mas se deixarmos
nossas línguas perderem seu autodomínio,
Tal que se desfaçam a
linguagem e o seu vínculo aquoso
Antes de nossa morte,
em vez de quando a morte chegar,
Diante do intenso
brilho do dia dos infantes,
Diante da rosa, do
céu escuro e dos tambores,
Sem dúvida nos
tornaremos loucos e assim morreremos.
Referência:
GRAVES, Robert. The cool web. In:
KERSNOWSKI, Frank L. The early poetry of
Robert Graves: the goddess beckons. 1st. ed. Austin, TX: University of
Texas Press, 2002. p. 157.
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