Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Dora Ferreira da Silva - Para Clarice Lispector

Partindo de uma alegria que raras vezes se via estampada no rosto de Clarice Lispector (1920-1977), a poetisa, no avançar das linhas, torna mais evidenciada a verdadeira natureza da grande escritora; silenciosa, sentindo-se aparentemente só, mesmo estando em companhia de familiares ou amigos.

Lágrimas – melhor seria dizer desalento, tristeza – é o que o seu rosto estampava nos últimos anos de vida. Lágrimas que, imaginosamente, Dora divisa enxugadas por anjos. Anjos que, decifrando-lhe a partitura, ali estavam para auxiliá-la e fazê-la tomar da pena para, com isso, extravasar o que lhe toldava o espírito.

J.A.R. – H.C.

Dora Ferreira da Silva
(1918-2006)

Para Clarice Lispector
In memorian

Anjos cantam tua eterna alegria.
Aos que se sentem sós mandas dizer
que doce na terra é o vinho da música
e o silêncio, sabor.
Foste partitura, que só os anjos souberam decifrar,
nascida de um fragílimo novelo –
teus cabelos claros –
que só os anjos puderam destrançar.

Ouves além das lágrimas antigas
essas lágrimas que só os anjos foram capazes de enxugar.

Retrato de Clarice Lispector
(Giorgio de Chirico: pintor italiano)

Referência:

FERREIRA DA SILVA, Dora. Para Clarice Lispector. In: FERREIRA DA SILVA, Dora et al. Boa companhia: poesia. 1. ed., 1. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2005. p. 19.

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