Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Robert Lowell - Epílogo

Lowell tece comentários sobre a sua própria arte – a poética –, traçando paralelos com outras artes, como a pintura, e mesmo com o ofício da fotografia, quando então especula ser a vida algo monótona, mas não propriamente a poesia, com os seus interessantes “instantâneos”.

O significado do poema, pois, resultaria da conjugação de dicção e imagens, ou ainda, de linguagem e narrativa, sem perda de fidedignidade aos fatos: o que há de “vivo” em cada momento deve ser o objeto imediato de “captura” por parte do poeta, para que possa conferir a “graça da precisão” à sua visão.

J.A.R. – H.C.

Robert Lowell
(1917-1977)

Epilogue

Those blessèd structures, plot and rhyme –
why are they no help to me now
I want to make
something imagined, not recalled?
I hear the noise of my own voice:
The painter’s vision is not a lens,
it trembles to caress the light.
But sometimes everything I write
with the threadbare art of my eye
seems a snapshot,
lurid, rapid, garish, grouped,
heightened from life,
yet paralyzed by fact.
All’s misalliance.
Yet why not say what happened?
Pray for the grace of accuracy
Vermeer gave to the sun’s illumination
stealing like the tide across a map
to his girl solid with yearning.
We are poor passing facts,
warned by that to give
each figure in the photograph
his living name.

Menina com brinco de pérola
(Johannes Vermeer: pintor holandês)

Epílogo

Essas benditas estruturas, enredo e rima –
por que não me auxiliam agora
que busco elaborar algo
com a imaginação, não com a memória?
Ouço o ruído de minha própria voz:
A visão do pintor não é uma lente,
ela freme para acariciar a luz.
Mas às vezes tudo o que escrevo
com a arte trivial dos meus olhos
parece um instantâneo,
vívido, premente, chamativo, carregado,
intensificado em razão da vida,
paralisado no entanto pelos fatos.
Tudo são desditosos enlaces.
Porém, por que não dizer o que se passou?
Clame pela graça da precisão
que Vermeer imprimiu à iluminação do sol,
a avançar furtivamente qual maré sobre um mapa,
até sua garota hirta de desejo.
Somos pobres fatos passageiros,
por isso orientados a dar
a cada figura na fotografia
o seu nome vivo.

Referência:

LOWELL, Robert. Epilogue. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 21.

2 comentários:

  1. Prezado J. A. Rodrigues, bom dia. Por gentileza, a tradução do poema de Lowell é sua? Preciso dessa informação, pois pretendo utilizá-la come epígrafe. Aguardo o seu retorno: robertoamaral001@gmail.com

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  2. Prezado Roberto,
    A tradução é mesmo de minha autoria, como você pode verificar pela observação "Nota Sobre as Traduções", à esquerda do blog, haja vista que omito o meu nome em tais situações, somente apresentando o do tradutor, quando a versão for de outrem. Ok?! Dessa forma, disponha.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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