Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Laura Esteves - Antropofagia

É a poetisa que se autodescreve em seu poema, em versos que nos dão ciência do resultado da transformação que alimentou por toda a vida, até que o ovo da serpente rompesse a casca, demolindo-lhe a casa, devorando-a, ingratamente, com os seus poemas de vanguarda.

Pode-se conjecturar que o ofício da poesia, nesse ínterim, ganhou precedência frente aos outros papéis desempenhados por Laura na sociedade. E, embora, de início, ela mencione formas fixas de manifestação do fazer poético, apresenta-nos o efeito da antropofagia a que se submetera, mediante um poema já tangenciando a raia das criações desgarradas.

J.A.R. – H.C.

Laura Esteves
(n. 1938)

Antropofagia

Foi tão de repente!
Nem desconfiavas
que possuías
uma poeta em casa.
Igual ao ovo da serpente
ela foi criando vida e forma.
Cresceu.

Deste a ela calor e alimento.
Escondida, a poeta escrevia
trovas, haicais e sonetos.
Certo dia, rompeu a casca,
derrubou a própria casa
e, ingrata, te devorou...
com seus poemas
de vanguarda.

Mulher lendo – A esposa do artista
(Aaron Shikler: pintor norte-americano)

Referência:

ESTEVES, Laura. Antropofagia. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2008. p. 13. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 34)

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