Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de fevereiro de 2020

D. H. Lawrence - A Obra da Criação

Lawrence aqui discorre sobre o habitual cotejo entre a divina criação do mundo e o método artístico da escrita: afirma ele que até mesmo um artista sabe que o mistério da criação não é um processo consciente ou controlado, a deliberada realização de uma intenção cuidadosamente planificada.

Obviamente que se trata de um lançar mão de referências bíblicas, no ato mesmo em que Deus teria criado o homem em carne e osso, sem disso ter qualquer ideia previamente elaborada: o ato de se pensar sobre uma criatura somente se viabiliza depois que houver a sua materialização. Há controvérsias bastantes sobre tal ponto de vista!

J.A.R. – H.C.

D. H. Lawrence
(1885-1930)

The Work of Creation

The mystery of creation is the divine urge of creation,
but it is a great strange urge, it is not a Mind.
Even an artist knows that his work was never in his mind,
he could never have thought it before it happened.
A strange ache possessed him, and he entered the struggle,
and out of the struggle with his material, in the spell of the urge
his work took place, it came to pass, it stood up and saluted
his mind.

God is a great urge, wonderful, mysterious, magnificent,
but he knows nothing beforehand.
His urge takes shape in flesh, and lo!
it is creation! God looks himself on it in wonder, for the
first time.
Lo! there is a creature, formed! How strange!
Let me think about it! Let me form an idea!

A Criação e a Expulsão do Paraíso
Detalhe
(Giovanni di Paolo: pintor italiano)

A Obra da Criação

O mistério da criação é o ímpeto divino de criar,
mas é um imenso, estranho ímpeto, não é a Mente.
Até um artista sabe que a sua obra não esteve nunca
em sua mente,
ele não poderia nunca tê-la pensado antes que ela acontecesse.
Uma dor estranha o possuiu e ele entregou-se à luta,
e da luta com o seu material, na magia daquela urgência,
sua obra veio à luz, aconteceu, firmou-se e saudou a sua mente.

Deus é um imenso ímpeto, assombroso, magnífico, misterioso,
mas ele não sabe nada de antemão.
Seu ímpeto toma forma na carne, e eis!
é a criação! O próprio Deus, maravilhado, a contempla pela
primeira vez.
Olha! lá está formada uma criatura! Como é estranho!
Deixa-me pensar nisso! Formar uma ideia!

Referência:

LAWRENCE, D. H. The work of creation / A obra ad criação. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Alguma poesia. Seleção, tradução e introdução de Aíla de Oliveira Gomes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: T. A. Queiroz, 1991. Em inglês: p. 174; em português: p. 175. (‘Biblioteca de Letras e Ciências Humanas’; série 2ª, textos; v. 6)

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