Lawrence aqui discorre sobre o habitual cotejo entre a divina criação do
mundo e o método artístico da escrita: afirma ele que até mesmo um artista sabe
que o mistério da criação não é um processo consciente ou controlado, a
deliberada realização de uma intenção cuidadosamente planificada.
Obviamente que se trata de um lançar mão de referências bíblicas, no ato
mesmo em que Deus teria criado o homem em carne e osso, sem disso ter qualquer
ideia previamente elaborada: o ato de se pensar sobre uma criatura somente se
viabiliza depois que houver a sua materialização. Há controvérsias bastantes
sobre tal ponto de vista!
J.A.R. – H.C.
D. H. Lawrence
(1885-1930)
The Work of Creation
The mystery of
creation is the divine urge of creation,
but it is a great
strange urge, it is not a Mind.
Even an artist knows
that his work was never in his mind,
he could never have thought it before it happened.
A strange ache
possessed him, and he entered the struggle,
and out of the
struggle with his material, in the spell of the urge
his work took place,
it came to pass, it stood up and saluted
his mind.
God is a great urge,
wonderful, mysterious, magnificent,
but he knows nothing
beforehand.
His urge takes shape
in flesh, and lo!
it is creation! God
looks himself on it in wonder, for the
first time.
Lo! there is a
creature, formed! How strange!
Let me think about
it! Let me form an idea!
A Criação e a Expulsão do Paraíso
Detalhe
(Giovanni di Paolo:
pintor italiano)
A Obra da Criação
O mistério da criação
é o ímpeto divino de criar,
mas é um imenso,
estranho ímpeto, não é a Mente.
Até um artista sabe
que a sua obra não esteve nunca
em sua mente,
ele não poderia nunca
tê-la pensado antes que ela
acontecesse.
Uma dor estranha o
possuiu e ele entregou-se à luta,
e da luta com o seu
material, na magia daquela urgência,
sua obra veio à luz,
aconteceu, firmou-se e saudou a sua mente.
Deus é um imenso
ímpeto, assombroso, magnífico, misterioso,
mas ele não sabe nada
de antemão.
Seu ímpeto toma forma
na carne, e eis!
é a criação! O
próprio Deus, maravilhado, a contempla pela
primeira vez.
Olha! lá está formada
uma criatura! Como é estranho!
Deixa-me pensar
nisso! Formar uma ideia!
Referência:
LAWRENCE, D. H. The work of creation /
A obra ad criação. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Alguma poesia. Seleção, tradução e
introdução de Aíla de Oliveira Gomes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: T. A.
Queiroz, 1991. Em inglês: p. 174; em português: p. 175. (‘Biblioteca de Letras
e Ciências Humanas’; série 2ª, textos; v. 6)
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