Jeffers, neste poema, parece pretender nos dizer que, por mais que haja
belezas bastantes nas representações das artes, nada é capaz de superar a beleza
da própria natureza – o voo dos pássaros ou o giro em órbita dos planetas –, em
contraponto à sôfrega atividade humana – consciente ou inconsciente que seja.
E mais: no jogo de interações entre as pessoas que têm contato com um
lugar e o lugar propriamente dito, nasce um algo mais – mediado pela premente necessidade de subsistência –, que não se constata no olhar do
visitante, mais devotado a apreciar a beleza em suas meras externalidades.
J.A.R. – H.C.
Robinson Jeffers
(1887-1962)
Boats in a Fog
Sports and
gallantries, the stage, the arts, the antics of dancers,
The exuberant voices
of music,
Have charm for
children but lack nobility; it is bitter earnestness
That makes beauty;
the mind
Knows, grown adult.
A sudden fog-drift
muffled the ocean,
A throbbing of
engines moved in it,
At length, a stone’s
throw out, between the rocks and the vapor,
One by one moved
shadows
Out of the mystery,
shadows, fishing-boats, trailing each other
Following the cliff
for guidance,
Holding a difficult
path between the peril of the sea-fog
And the foam on the
shore granite.
One by one, trailing
their leader, six crept by me,
Out of the vapor and
into it,
The throb of their
engines subdued by the fog, patient and
cautious,
Coasting all round
the peninsula
Back to the buoys in
Monterey harbor. A flight of pelicans
Is nothing lovelier
to look at;
The flight of the
planets is nothing nobler; all the arts lose virtue
Against the essential
reality
Of creatures going
about their business among the equally
Earnest elements of
nature.
Nevoeiro sobre o Tâmisa
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
Barcos na Cerração
Esportes,
galanterias, o palco, as artes, trejeitos de bailarinos,
A exuberante voz da
música,
Encantam as crianças,
mas carecem de nobreza; é amarga severidade
Que faz o belo; a
mente
Sabe disso, quando
adulta.
Neblina súbita abafou
o oceano,
Dentro dela moveu-se
um pulsar de motores,
E, enfim, a um passo,
em meio às rochas e ao vapor
Uma atrás de outra se
moveram sombras,
Saindo do mistério,
sombras, barcos de pesca, um na trilha do outro,
Seguindo a escarpa
como orientação,
Mantendo um caminho
difícil entre o perigo da bruma
E a espuma no granito
litorâneo.
Um atrás do outro, na
trilha do primeiro, seis se arrastaram por mim,
Saindo do vapor e
nele entrando,
O pulsar dos motores
reprimido pela névoa, pacientes, cautelosos,
Contornando a
península inteira
De volta às boias no
porto de Monterey. Um voo de pelicanos
Em nada é mais bonito
de se olhar;
O voo dos planetas em
nada é mais nobre; todas as artes perdem virtude
Ante a realidade
essencial
De criaturas, tratando
de sua vida em meio aos igualmente
Severos elementos
naturais.
Referência:
JEFFERS, Robinson. Boats in a fog /
Barcos na cerração. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e
Tradução). Poetas norte-americanos.
Edição comemorativa do bicentenário da independência dos Estados Unidos da
América: 1776-1976. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Lidador, 1974. Em inglês
e em português: p. 94.
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