Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Robinson Jeffers - Barcos na Cerração

Jeffers, neste poema, parece pretender nos dizer que, por mais que haja belezas bastantes nas representações das artes, nada é capaz de superar a beleza da própria natureza – o voo dos pássaros ou o giro em órbita dos planetas –, em contraponto à sôfrega atividade humana – consciente ou inconsciente que seja.

E mais: no jogo de interações entre as pessoas que têm contato com um lugar e o lugar propriamente dito, nasce um algo mais – mediado pela premente necessidade de subsistência –, que não se constata no olhar do visitante, mais devotado a apreciar a beleza em suas meras externalidades.

J.A.R. – H.C.

Robinson Jeffers
(1887-1962)

Boats in a Fog

Sports and gallantries, the stage, the arts, the antics of dancers,
The exuberant voices of music,
Have charm for children but lack nobility; it is bitter earnestness
That makes beauty; the mind
Knows, grown adult.
A sudden fog-drift muffled the ocean,
A throbbing of engines moved in it,
At length, a stone’s throw out, between the rocks and the vapor,
One by one moved shadows
Out of the mystery, shadows, fishing-boats, trailing each other
Following the cliff for guidance,
Holding a difficult path between the peril of the sea-fog
And the foam on the shore granite.
One by one, trailing their leader, six crept by me,
Out of the vapor and into it,
The throb of their engines subdued by the fog, patient and
cautious,
Coasting all round the peninsula
Back to the buoys in Monterey harbor. A flight of pelicans
Is nothing lovelier to look at;
The flight of the planets is nothing nobler; all the arts lose virtue
Against the essential reality
Of creatures going about their business among the equally
Earnest elements of nature.

Nevoeiro sobre o Tâmisa
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Barcos na Cerração

Esportes, galanterias, o palco, as artes, trejeitos de bailarinos,
A exuberante voz da música,
Encantam as crianças, mas carecem de nobreza; é amarga severidade
Que faz o belo; a mente
Sabe disso, quando adulta.
Neblina súbita abafou o oceano,
Dentro dela moveu-se um pulsar de motores,
E, enfim, a um passo, em meio às rochas e ao vapor
Uma atrás de outra se moveram sombras,
Saindo do mistério, sombras, barcos de pesca, um na trilha do outro,
Seguindo a escarpa como orientação,
Mantendo um caminho difícil entre o perigo da bruma
E a espuma no granito litorâneo.
Um atrás do outro, na trilha do primeiro, seis se arrastaram por mim,
Saindo do vapor e nele entrando,
O pulsar dos motores reprimido pela névoa, pacientes, cautelosos,
Contornando a península inteira
De volta às boias no porto de Monterey. Um voo de pelicanos
Em nada é mais bonito de se olhar;
O voo dos planetas em nada é mais nobre; todas as artes perdem virtude
Ante a realidade essencial
De criaturas, tratando de sua vida em meio aos igualmente
Severos elementos naturais.

Referência:

JEFFERS, Robinson. Boats in a fog / Barcos na cerração. Tradução de Paulo Vizioli. In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Edição comemorativa do bicentenário da independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Lidador, 1974. Em inglês e em português: p. 94.

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