Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Vikram Seth - O Gato de Rua

Num poema de quatro sextilhas com esquema de rimas ababcc, o poeta indiano descreve o ambivalente relacionamento que mantém com o seu gato cinzento, não exatamente um gato de rua, sem eira nem beira, senão um dos muitos que ficam a vagar pelos telhados em busca de aventuras amorosas noturnas.

E pela manhã, cheio de tropelias, em busca de alimento fácil, ele retorna, assim como quem não quer nada, mas, de fato, a inquirir o seu dono com os olhos de topázio, não exatamente sobre as ansiedades e inquietações que a este assolam, senão sobre as suas próprias chances de receber o petisco desejado. E ora, claro que o consegue!

J.A.R. – H.C.

Vikram Seth
(n. 1952)

The Stray Cat

The grey cat stirs upon the ledge
Outside the glass doors just at dawn.
I open it; he tries to wedge
His nose indoors. It is withdrawn.
He sits back to assess my mood.
He sees me frown; he thinks of food.

I am familiar with his stunts.
His Grace, unfed, will not expire.
He may be hungry, but he hunts
When need compels him, or desire.
Just yesterday he caught a mouse
And yoyo’d it outside the house.

But now he tums his topaz eyes
Upon my eyes, which must reveal
The private pressures of these days,
The numb anxieties I feel.
But no, his greyness settles back
And yawns, and lets his limbs go slack.

He ventures forth an easy paw
As if in bargain. Thus addressed,
I fetch a bowl, and watch him gnaw
The star-shaped nuggets he likes best.
He is permitted food, and I
The furred indulgence of a sigh.

Um gato ao natural
(Louis William Wain: artista inglês)

O Gato de Rua

O gato cinza agita-se sobre a cornija,
no frontal das portas de vidro ao amanhecer.
Eu as abro; ele tenta enfiar
o nariz dentro de casa e logo se afasta.
Senta-se para avaliar meu estado de ânimo.
Vê-me franzir o cenho; pensa em comida.

Estou familiarizado com as suas piruetas.
Sua Graça, se não alimentado, não expirará.
Ele pode estar com fome, mas vai à caça
Quando o deseja ou a necessidade o obriga.
Ainda ontem pegou um rato
E por sua conta arrastou-o para fora de casa.

Mas agora põe seus olhos de topázio
Sobre os meus olhos, os quais devem revelar
As tensões privadas destes dias,
As ansiedades entorpecidas que sinto.
Não, contudo: o acinzentado recosta-se
E boceja, deixando relaxados os membros.

Aventura-se com uma desembaraçada pata
Como se numa barganha. Assim abordado,
Trago-lhe uma tigela e o vejo rilhar os nacos
Em forma de estrela de que mais gosta.
Ele se permite o alimento, e eu
A indulgência furtiva de um suspiro.

Referência:

SETH, Vikram. The stray cat. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 110-111.
ö

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