Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Reiner Kunze - O Fim da Arte

Tem-se aqui uma crítica a todos os sistemas políticos – da extrema-direita à extrema-esquerda –, fascistas, intervencionistas ou que tais, que teimam em toldar o dia, obstruindo a luz do sol: se um tetraz não percebe a alvorada, como se disporá a cantá-la todas as manhãs?! Vai tornar-se uma ave noturna, como a coruja.

Como sequela, o modo de expressão da arte, pelo artista opresso, tenderá a metáforas cada vez mais difíceis de decifrar, verdadeiras charadas dirigidas àqueles atentos ao poder da representação intersubjetiva. Desse modo, pode-se interpretar o poema como um libelo difundido pelos que se propõem a defender, mais deliberadamente, a liberdade de pensamento e de imprensa.

J.A.R. – H.C.

Reiner Kunze
(n. 1933)

Das Ende der Kunst

Du darst nicht, sagte die eule zum auerhahn,
du darfst nicht die sonne besingen
Die sonne ist nicht wichtig

Der auerhahn nahm
die sonne aus seinem gedicht

Du bist ein künstler,
sagte die euer zum auerhahn

Und es war schön finster

Coruja e Galo: Noite e Dia
(Autoria Desconhecida)

O Fim da Arte

Tu não deves, disse a coruja ao galo silvestre,
tu não deves cantar o sol
O sol não é importante

O galo silvestre tirou
o sol do seu poema

Tu és um artista,
disse a coruja ao galo silvestre

E foi uma beleza de escuridão

Referência:

KUNZE, Reiner. Das ende der kunst / O fim da arte. Tradução de Renato Correia. In: __________. Poemas. Traduções de Luz Videira e Renato Correia; introdução de Renato Correia. Edição coordenada por Karl Heinz Delille. Porto, PT: Paisagem, 1984. Em alemão: p. 28; em português: p. 29. (“Estudos Literários”; v. 1)

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