Tem-se aqui uma crítica a todos os sistemas políticos – da extrema-direita
à extrema-esquerda –, fascistas, intervencionistas ou que tais, que teimam em toldar
o dia, obstruindo a luz do sol: se um tetraz não percebe a alvorada, como se
disporá a cantá-la todas as manhãs?! Vai tornar-se uma ave noturna, como a coruja.
Como sequela, o modo de expressão da arte, pelo artista opresso, tenderá
a metáforas cada vez mais difíceis de decifrar, verdadeiras charadas dirigidas
àqueles atentos ao poder da representação intersubjetiva. Desse modo, pode-se interpretar
o poema como um libelo difundido pelos que se propõem a defender, mais deliberadamente,
a liberdade de pensamento e de imprensa.
J.A.R. – H.C.
Reiner Kunze
(n. 1933)
Das Ende der Kunst
Du darst nicht, sagte
die eule zum auerhahn,
du darfst nicht die
sonne besingen
Die sonne ist nicht
wichtig
Der auerhahn nahm
die sonne aus seinem
gedicht
Du bist ein künstler,
sagte die euer zum
auerhahn
Und es war schön
finster
Coruja e Galo: Noite e Dia
(Autoria
Desconhecida)
O Fim da Arte
Tu não deves, disse a
coruja ao galo silvestre,
tu não deves cantar o
sol
O sol não é
importante
O galo silvestre
tirou
o sol do seu poema
Tu és um artista,
disse a coruja ao
galo silvestre
E foi uma beleza de
escuridão
Referência:
KUNZE, Reiner. Das ende der kunst / O fim
da arte. Tradução de Renato Correia. In: __________. Poemas. Traduções de Luz Videira e Renato Correia; introdução de
Renato Correia. Edição coordenada por Karl Heinz Delille. Porto, PT: Paisagem,
1984. Em alemão: p. 28; em português: p. 29. (“Estudos Literários”; v. 1)
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