Apresento aqui uma versão ao português, por mim levada a efeito a partir
da tradução de Czeslaw Milosz e Leonard Nathan, do polonês ao inglês: trata-se
de uma criação da poetisa Anna Świrszczyńska, cuja obra é muito pouco difundida por estas plagas.
Nota-se nos versos de Anna uma breve reflexão sobre a dúvida acerca do que
representam os objetivos da própria poesia, quase a tangenciar as mesmas reflexões
de que cuida a filosofia: “essa monstruosidade chamada vida”, a nos atordoar
sobre o real sentido da existência.
Leituras de poesia não são comuns em
alguns países. Em outros, entre eles a Polônia, elas atraem uma audiência que
não trata a poesia apenas como uma experiência estética. Pelo contrário, de uma
forma ou de outra, tais audiências trazem ao evento suas múltiplas perguntas
sobre a vida e a morte. Este poema capta bem a ignorância e o desamparo tanto
da poetisa quanto de seus ouvintes. (MILOSZ, 1998, p. 259)
J.A.R. – H.C.
Anna Świrszczyńska
(1904-1984)
Poetry Reading
I’m curled into a
ball
like a dog
that is cold.
Who will tell me
why I was born,
why this monstrosity
called life.
The telephone rings.
I have to give
a poetry reading.
I enter.
A hundred people, a
hundred pairs of eyes.
They look, they wait.
I know for what.
I am supposed to tell
them
why they were born,
why there is
this monstrosity
called life.
Tantos olhos sobre mim
(Autoria Desconhecida)
Leitura de Poesia
Estou enrolada numa
bola
como um cão
sentindo frio.
Quem me dirá
por que nasci,
por que essa
monstruosidade
chamada vida.
O telefone toca.
Tenho que organizar
uma leitura de
poesia.
Eu entro.
Cem pessoas, cem
pares de olhos.
Eles observam,
esperam.
Bem sei por quê.
Presume-se que lhes deveria dizer
por que nasceram,
por que existe
esta monstruosidade
chamada vida.
Referência:
SWIR, Anna. Poetry reading. Translated
from the Polish by Czeslaw Milosz and Leonard Nathan. In: MILOSZ, Czeslaw
(Ed.). A book of luminous things: an
international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin
Harcourt, 1998. p. 259.
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