Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Rina Schani - Poema

Da autoria de uma poetisa israelense com ancestrais lituanos, cuja biografia é um rio inteiro sobremodo polêmico, o poema de hoje reverbera a sua máxima aposta em sentidos reversos na primeira e na última linhas: o direito que temos de lembrar (ou de esquecer) é igual (ou se assemelha) ao direito de esquecer (ou de lembrar).

O passado pode nos fazer rememorar tanto as coisas boas quanto as más: por que haveríamos de ficar remoendo tristezas ou insucessos já conjugados em formas pretéritas? Tornemo-nos equilibrados emocionalmente, ainda que à vista de um sem número de coisas opostas que se manifestam na realidade, elas mesmas derivadas das muitas exteriorizações do Tao.

J.A.R. – H.C.

Rina Schani
(1937-1983)

Poema

Teu direito de esquecer igual ao teu direito de lembrar.
Se não podes passar por cima, ou abrir
A mão feito uma asa, ou devolver
A violência dos anjos singulares,
Teu direito de enterrar igual ao teu direito de queimar.

Alguém pode injuriar, vituperar
Contra ti, verter cólera celeste de uma sulfúrea boca.
Mas teu direito de partir igual ao teu direito de ficar,
De cantar ou de estar quieta,
De ser pássaro ou água ou pedras.

A ti é dado escapulir: teu é o mundo
E a linda praça, com seus repuxos de sol, há de esperar.
Atrela teu carro às mais selvagens horas ou
À calma exausta. Reúne tuas forças no teu eu.
Teu direito de lembrar igual ao teu direito de esquecer.

Jamais esqueça de lembrar
(Adrian Doyle: pintor australiano)

Referência:

SCHANI, Rina. Poema. Tradução de J. Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 469. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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