Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Edna St. Vincent Millay - Canto Fúnebre sem Música

Millay se junta a grandes autoras de livros sobre pessoas que fizeram diferença em suas vidas – lembro-me aqui, em particular, de duas obras memoriais, vale dizer, “O ano do pensamento mágico”, de Joan Didion, e “O ano da leitura mágica”, de Nina Sankovitch –, para manifestar seu inconformismo em relação ao fato de que todos partem.

Irresignada com a forma como as coisas se passam neste plano de existência, ela então recorda daqueles que se foram – os sábios, os encantadores, os espirituosos, os engraçados, os valorosos –, todos agora sob a terra, convertidos – menos pior! – em solo fértil e alimento para belas rosas perfumadas.

J.A.R. – H.C.

Edna St. Vincent Millay
(1892-1950)

Dirge Without Music

I am not resigned to the shutting away of loving hearts in the hard ground.
So it is, and so it will be, for so it has been, time out of mind:
Into the darkness they go, the wise and the lovely. Crowned
With lilies and with laurel they go; but I am not resigned.

Lovers and thinkers, into the earth with you.
Be one with the dull, the indiscriminate dust.
A fragment of what you felt, of what you knew,
A formula, a phrase remains,– but the best is lost.

The answers quick and keen, the honest look, the laughter, the love,–
They are gone. They are gone to feed the roses. Elegant and curled
Is the blossom. Fragrant is the blossom. I know. But I do not approve.
More precious was the light in your eyes than all the roses in the world.

Down, down, down into the darkness of the grave
Gently they go, the beautiful, the tender, the kind;
Quietly they go, the intelligent, the witty, the brave.
I know. But I do not approve. And I am not resigned.

O Dia dos Mortos
(Diego Rivera: pintor mexicano)

Canto Fúnebre sem Música

Não me conformo em ver baixarem à terra dura os corações amorosos,
É assim, assim há de ser, pois assim tem sido desde tempos imemoriais:
Partem para a treva os sábios e os encantadores. Coroados
De louros e de lírios, partem; porém não me conformo com isso.

Amantes, pensadores, misturados com a terra!
Unificados com a triste, indistinta poeira.
Um fragmento do que sentíeis, do que sabíeis,
Uma fórmula, uma frase resta – porém o melhor se perdeu.

As réplicas vivas, rápidas, o olhar sincero, o riso, o amor
Foram-se embora. Foram-se para alimento das rosas. Elegante, ondulosa
É a flor. Perfumada é a flor. Eu sei. Porém não estou de acordo.
Mais preciosa era a luz em vossos olhos do que todas as rosas do mundo.

Vão baixando, baixando, baixando à escuridão do túmulo,
Suavemente, os belos, os carinhosos, os bons.
Tranquilamente baixam, os espirituosos, os engraçados, os valorosos.
Eu sei. Porém não estou de acordo. E não me conformo.

Referências:

Em Inglês

MILLAY, Edna St. Vincent Millay. Dirge without music. In: __________.  Collected poems. Edited by Norma Millay Ellis. New York, NY: Harper & Brothers Publishers, 1956. p. 240-241.

Em Português

MILLAY, Edna St. Vincent Millay. Canto fúnebre sem música. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. p. 237. (Coleção “Ás de colete”; 20)

Nenhum comentário:

Postar um comentário