Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de setembro de 2019

Tarcísio Meira César - Tônio Kroeger

Este poema, certamente, diz respeito ao personagem Tonio Kröger, da novela de mesmo nome (1903), de Thomas Mann, a refletir como muitos dos escritos do autor alemão, sobre a arte e a missão do artista, sua criatividade, sensibilidade, mente e pensamentos, e, mais pronunciadamente, o elemento político que se manifesta mediante cada conteúdo estético.

Tonio é um poeta que lança mão da poesia para autoexprimir-se e compensar sua solidão, a falta de algum sentido para a vida e a impotência que deriva de uma frágil e insegura existência. A dicotomia entre a vida e a arte, a felicidade pessoal e a disciplina necessária para grandes conquistas são temas que assombram o personagem, à procura de se adaptar a um mundo que, seguindo a norma burguesa utilitária, não lhe franqueia maior espaço.

J.A.R. – H.C.

Tarcísio Meira César
(1941-1988)

Tônio Kroeger

E pouco a pouco a névoa dissolveu-se
no claro sonho, humilde, nascituro
– ave que esvoaçou no céu impuro
do tempo em que nasceu e onde prendeu-se.

Excluído assim do amor e da canção,
depois veio o silêncio mais cinzento.
Sem ter repouso e sem ter movimento,
desdobrou-se entre o sono e a solidão.

Viu tudo do outro lado da vidraça,
inexpressivo e só e mudo e alheio
– sombra hamletiana que esvoaça.

Assim entrou num mundo inexplorado:
um golfo de imortais palavras cheio,
onde se vê noturno e destroçado.

Interior com um jovem lendo
(Vilhelm Hammershøi: pintor dinamarquês)

Referência:

CÉSAR, Tarcísio Meira. Tônio Kroeger. In: __________. Poesia reunida. Patos, PB: Fundação Ernani Sátyro, 1997. p. 125.

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