Este poema, certamente, diz respeito ao personagem Tonio Kröger, da novela
de mesmo nome (1903), de Thomas Mann, a refletir como muitos dos escritos do
autor alemão, sobre a arte e a missão do artista, sua criatividade, sensibilidade,
mente e pensamentos, e, mais pronunciadamente, o elemento político que se manifesta
mediante cada conteúdo estético.
Tonio é um poeta que lança mão da poesia para autoexprimir-se e
compensar sua solidão, a falta de algum sentido para a vida e a impotência que
deriva de uma frágil e insegura existência. A dicotomia entre a vida e a arte, a felicidade pessoal e a disciplina necessária
para grandes conquistas são temas que assombram o personagem, à procura de se
adaptar a um mundo que, seguindo a norma burguesa utilitária, não lhe franqueia
maior espaço.
J.A.R. – H.C.
Tarcísio Meira César
(1941-1988)
Tônio Kroeger
E pouco a pouco a
névoa dissolveu-se
no claro sonho,
humilde, nascituro
– ave que esvoaçou no
céu impuro
do tempo em que
nasceu e onde prendeu-se.
Excluído assim do
amor e da canção,
depois veio o
silêncio mais cinzento.
Sem ter repouso e sem
ter movimento,
desdobrou-se entre o
sono e a solidão.
Viu tudo do outro
lado da vidraça,
inexpressivo e só e
mudo e alheio
– sombra hamletiana
que esvoaça.
Assim entrou num
mundo inexplorado:
um golfo de imortais
palavras cheio,
onde se vê noturno e
destroçado.
Interior com um jovem lendo
(Vilhelm Hammershøi:
pintor dinamarquês)
Referência:
CÉSAR, Tarcísio Meira. Tônio Kroeger.
In: __________. Poesia reunida.
Patos, PB: Fundação Ernani Sátyro, 1997. p. 125.
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