A mulher poetisa deixa a labuta com as palavras para mais tarde, depois
de cumprir os seus deveres de esposa: nesse mister, ela está ciente de que é
objeto da observação de sua filha, a aprender com ela e, quem sabe mais tarde,
a seguir o seu exemplo. Ou não: porque
nos dias que correm as mulheres são muito mais donas de seus destinos!
Seja como for, o poema reforça a ideia de que, indubitavelmente, os pais
são os principais exemplos para os filhos. Ademais, a poetisa põe em relevo o
fato de que seu esposo – o também poeta Raymond Carver – já não lhe acompanha
em vida, embora nada lhe impeça de continuar cuidando de suas roupas, talvez
para manter vívidos os belos momentos do extinto relacionamento.
J.A.R. – H.C.
Tess Gallagher
(n. 1943)
I Stop Writing the Poem
to fold the clothes.
No matter who lives
or who dies, I’m
still a woman.
I’ll always have
plenty to do.
I bring the arms of
his shirt
together. Nothing can
stop
our tenderness. I’ll
get back
to the poem. I’ll get
back to being
a woman. But for now
there’s a shirt, a
giant shirt
in my hands, and
somewhere a small girl
standing next to her
mother
watching to see how
it’s done.
Aia passando roupa
(Henry R. Morland:
pintor inglês)
Paro de Escrever o Poema
para dobrar as
roupas. Não importa quem viva
ou quem morra, ainda
sou uma mulher.
Sempre terei muito o
que fazer.
Trago unidos os
braços de sua
camisa. Nada pode
deter
nossa ternura.
Regressarei
ao poema. Voltarei a
ser
uma mulher. Mas, por
enquanto,
há uma camisa, uma gigantesca
camisa
em minhas mãos e, em
algum lugar, uma pequena garota
parada ao lado de sua
mãe
observando para ver
como se faz.
Referência:
GALLAGHER, Tess. I stop writing the poem.
In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 184.
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