Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Ribeiro Couto - Arte Poética

O fazer poético aqui aparece metaforizado na seleção de espécies coloridas e pequenas de peixes dentro de um aquário, assim como elementos característicos do ambiente em que imersos – plantas, flores, conchas e caramujos –, com isso, hipoteticamente, a traduzir uma série de poemas mais curtos, a retratarem o mesmo brilho metafórico das circunstâncias, fatos e realidades apreendidos pelo poeta.

Couto observa que, ao contrário dos peixes pequenos, os grandes é que se oferecem mais desembaraçadamente, por serem “lentos” e “balofos”: eis aí uma alusão aos longos poemas, que muitas vezes refletem o estado d’alma do vate, a representarem autêntico transbordamento de emoções e de sentimentos – muito mais do que de pensamentos –, metamorfoseando a arte poética em meio de catarse.

J.A.R. – H.C.

Ribeiro Couto
(1898-1963)

Arte Poética

Na sombra submersa, como num aquário,
As vezes claridades rompiam
E formas nadavam, de incertos peixes.

Difícil e sábia a mão se estendia;
Azuis, vermelhos, verdes, doirados,
Os peixes pequeninos fugiam.
Lentos, balofos, os grandes peixes
Se ofereciam.
Azuis, vermelhos, verdes, doirados.
Por seus movimentos e suas cores
Os pequeninos é que a mão queria,
E mais as plantas e mais as flores
E mais as canchas e os caramujos
Vivos e eternos no fundo da areia.

Em: “Cantigas Brasileiras no Hemisfério Norte”

Sob o Mar: abstrato
(Samiran Sarkar: pintor indiano)

Referência:

COUTO, Ribeiro. Arte poética. In: __________. Poesias reunidas. 1. ed. Rio de Janeiro, GB: José Olympio, 1960. p. 380.

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