O fazer poético aqui aparece metaforizado na seleção de espécies coloridas e pequenas
de peixes dentro de um aquário, assim como elementos característicos do
ambiente em que imersos – plantas, flores, conchas e caramujos –, com isso,
hipoteticamente, a traduzir uma série de poemas mais curtos, a retratarem o
mesmo brilho metafórico das circunstâncias, fatos e realidades apreendidos pelo
poeta.
Couto observa que, ao contrário dos peixes pequenos, os grandes é que se
oferecem mais desembaraçadamente, por serem “lentos” e “balofos”: eis aí uma
alusão aos longos poemas, que muitas vezes refletem o estado d’alma do vate, a
representarem autêntico transbordamento de emoções e de sentimentos – muito
mais do que de pensamentos –, metamorfoseando a arte poética em meio de
catarse.
J.A.R. – H.C.
Ribeiro Couto
(1898-1963)
Arte Poética
Na sombra submersa,
como num aquário,
As vezes claridades
rompiam
E formas nadavam, de
incertos peixes.
Difícil e sábia a mão
se estendia;
Azuis, vermelhos,
verdes, doirados,
Os peixes pequeninos
fugiam.
Lentos, balofos, os
grandes peixes
Se ofereciam.
Azuis, vermelhos,
verdes, doirados.
Por seus movimentos e
suas cores
Os pequeninos é que a
mão queria,
E mais as plantas e
mais as flores
E mais as canchas e os
caramujos
Vivos e eternos no
fundo da areia.
Em: “Cantigas Brasileiras no Hemisfério
Norte”
Sob o Mar: abstrato
(Samiran Sarkar:
pintor indiano)
Referência:
COUTO, Ribeiro. Arte poética. In: __________.
Poesias reunidas. 1. ed. Rio de
Janeiro, GB: José Olympio, 1960. p. 380.
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