No
sentido do poema do poeta de Passa-Quatro (MG), há algo que faz lembrar aquele
pensamento atribuído ao dramaturgo e também poeta Bertolt Brecht,
sobre os homens e mulheres que lutam a vida inteira e se tornam
imprescindíveis, mesmo expostos à presumível angústia que os assola todos os
dias.
Viver,
de fato, é uma construção voltada a aperfeiçoar a obra que aqui deixaremos,
tanto quanto a nós mesmos: se assim não for, qual o sentido da vida?!
Acabaremos por dar razões aos niilistas, que não veem razões para o fluxo dos
dias, que tanto poderá dispô-los assim quanto assado! Como diria Gramsci, “a
indiferença é o peso morto da história”.
J.A.R.
– H.C.
Pedro Mossri
(1924-2012)
Construção
Estamos sempre construindo
a casa de nosso mundo.
Às vezes, não temos tijolos
porque a esperança de inventá-los
é menos do que o suor necessário.
O barro, porém, brilha sob nossos pés.
É preciso afundar as unhas
no sal que nos corrói
e colocar asas nas sombras
que nos apodrecem.
Hoje
aquela parede velha
poderá cair.
Amanhã
abriremos novas janelas
e as telhas serão risos vermelhos
cobrindo o mundo e o tempo.
O que importa: que os ossos da casa
possam suportar o peso
de nossa angústia.
(Passa-Quatro, MG, 1969)
A Construção do Cavalo de Troia
(Giovanni D. Tiepolo: pintor italiano)
Referência:
MOSSRI,
Pedro. Construção. In: BRITO, Heládio; MORAIS, Regis de et al. Oficina: exercícios
do ofício da poesia. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001. p. 101. (Edição
Comemorativa Limitada)
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