Quando a idade avança tornamo-nos mais serenos e capazes de belas
reflexões sobre a vida: a idade da ansiedade a que se refere o poeta diz
respeito a um determinado momento de sua vida pessoal, quando se vê às voltas
com a criação de poemas que lhe ficam aprisionados, a refletirem coisas tantas
vezes já ouvidas, mas que, aparentemente, não repercutem na audiência,
certamente pouco atenta.
A despeito de tudo, as experiências passadas não possuem o condão de nos
definir para sempre – e parece que é contra isso que o poeta se debate e se
torna ansioso, esperando dar contornos diferenciados à vida, de modo a permitir
vazão, em seus poemas, de sentimentos e, talvez, de pensamentos que muitas
vezes teimam em não se converter em palavras.
J.A.R. – H.C.
John
Koethe
(n. 1945)
The Age of Anxiety
isn’t an historical
age,
But an individual
one, an age to be repeated
Constantly through
history. It could be any age
When the
self-absorbing practicalities of life
Are overwhelmed by a
sense of its contingency,
A feeling that the
solid body of this world
Might suddenly
dissolve and leave the simple soul
That’s not a soul
detached from tense and circumstance,
From anything it
might recognize as home.
I like to think that
it’s behind me now, that at my age
Life assumes a
settled tone as it explains itself
To no one in
particular, to everyone. I like to think
That of those “gifts
reserved for age,” the least
Is understanding and
the last a premonition of the
Limits of the poem
that’s never done, the poem
Everyone writes in
the end. I see myself on a stage,
Declaiming, as the
golden hour wanes, my long apology
For all the wasted time
I’m pleased to call my life –
A complacent,
measured speech that suddenly turns
Fretful as the lights
come up to show an empty theater
Where I stand halting
and alone. I rehearse these things
Because I want to and
I can. I know they’re quaint,
And that they’ve all
been heard before. I write them
Down against the day
when the words in my mouth
Turn empty, and the
trap door opens on the page.
In: “The Swimmer” (2016)
Amarelo, Vermelho, Azul
(Wassily Kandinsky:
artista russo)
A Idade da Ansiedade
não é uma idade
histórica,
Mas individual, uma
idade a se repetir
Constantemente ao
longo da história.
Poderia ser qualquer
idade
Em que os aspectos
práticos da vida, absorventes por si mesmos,
São dominados pelo
sentido de sua contingência,
Uma sensação de que o
corpo sólido deste mundo
Poderia
repentinamente se dissolver, deixando singela a alma,
Que não é uma alma
desapegada do tempo e das circunstâncias,
De qualquer coisa que
possa reconhecer como lar.
Gosto de pensar que ela
agora está atrás de mim, que em minha idade
A vida assume um tom
estável, já que não se deslinda
Para ninguém em
particular, senão para todos. Gosto de pensar
Que dos “regalos
reservados à idade”, o menos importante
É a compreensão e, o
derradeiro, uma premonição dos
Limites do poema que
nunca se fez, o poema
Que todos escrevem ao
final. Vejo-me num palco, declamando,
Enquanto se desvanece
a hora dourada, minhas longas escusas
Por todo o tempo
perdido que me compraz chamar minha vida –
Um discurso
complacente e ponderado que repentinamente se torna
Agitado quando as
luzes se acendem para mostrar um teatro vazio
Onde estou quedo e
sozinho. Ensaio essas coisas
Porque quero e posso.
Sei que são esquisitas,
E que todas elas já
antes foram ouvidas. Escrevo-as
Contra o dia em que
as palavras em minha boca
Tornam-se vazias, e o
postigo se abre sobre a página.
Em: “O Nadador” (2016)
Em: “O Nadador” (2016)
Referência:
KOETHE, John. The age of anxiety. In:
TRETHEWEY, Natasha (Guest Editor); LEHMAN, David (Series Editor). The best american poetry: 2017. New
York, NY: Schibner Poetry, sep.2017. p. 71. (“The Best American Poetry” series;
Simon & Schuster)
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