Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 21 de setembro de 2019

Hermann Hesse - Jovem Noviço num Mosteiro Zen II

Hesse expressa, neste poema, a alegria daquele que conseguiu se desvencilhar dos excessos de um ego sem limites, entregando-se a um reino de iluminação que, aos olhos do zen-budismo, advém de experiência interior levada a efeito com ênfase e seriedade, para que, desse modo, se alcance a essência mesma do mundo.

Há certo pendor ao minimalismo em relação às coisas materiais, favorecendo o aperfeiçoamento espiritual do noviço: a compreensão do mundo das aparências (Maya) dá-se pelo emprego de suas qualidades naturais ou instintivas, permitindo-lhe elevar o poder de Maya à própria essência do mundo real.

J.A.R. – H.C.

Hermann Hesse
(1877-1962)

Junger Novize im Zen-Kloster II

Ist auch alles Trug und Wahn
Und die Wahrheit stets unnennbar,
Dennoch blickt der Berg mich an
Zackig und genau erkennbar.

Hirsch und Rabe, rote Rose,
Meeresblau und bunte Welt:
Sammle dich – und sie zerfällt
Ins Gestalt – und Namenlose.

Sammle dich und kehre ein,
Lerne schauen, lerne lesen!
Sammle dich – und Welt wird Schein.
Sammle dich – und Schein wird Wesen.

(Februar 1961)

Jovem noviço budista
(Candi Parshall: artista norte-americana)

Jovem Noviço num Mosteiro Zen II

Seja tudo ilusão e fantasia,
permanecendo a verdade indizível:
entretanto, a montanha me contempla
com seu contorno bem reconhecível.

Cervo e corvo, rosa rubra e lilás,
azul de mar e mundo variegado:
se te concentras, tudo se desfaz
no grande Uno amorfo e inominado.

Recolhe-te ao mais fundo do teu ser
e assim aprende a ver, aprende a ler!
Concentra-te... e o mundo faz-se aparência.
Concentra-te... e a aparência faz-se essência.

(Fevereiro 1961)

Referências:

Em Alemão

HESSE, Hermann. Junger Novize im Zen-Kloster II. In: __________. Die gedichte: 1892-1962. 19. auflage. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp, 1977. s. 720.

Em Português

HESSE, Hermann. Jovem noviço num mosteiro zen II. Tradução de Geir Campos. In: ______. Andares: antologia poética. Tradução de Geir Campos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1976. p. 235.

2 comentários:

  1. Rodrigues, li um que outro poema do grande Hermann Hesse. Sou mais familiarizado com os romances e contos do mestre. Do que já li e reli do autor agradou-me sobremaneira as obras " O Lobo da Estepe", "Demian" e "Sidarta". Um abraço daqui do sul do Brasil.

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  2. Caro Dilmar:
    Decerto, o que há de mais importante na obra de Hesse é a trilogia mencionada por você, embora também aprecie "Narciso e Goldmund".
    Assim como você, embora não seja um poeta nato, tenho a poesia como uma forma especial de ver o mundo, com potencial, ademais, para aprimorar o meu entendimento em idiomas estrangeiros.
    Agradeço-lhe pela postagem e navegação pelas páginas deste blog.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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