Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Wisława Szymborska - Platão ou o Porquê

A poesia de Szymborska é uma poderosa ferramenta a descrever o mundo, com lirismo e timbre filosófico, capaz de suscitar interesse no leitor, em especial quando se detém sobre os absurdos e os paradoxos da existência. Aqui, num só poema, percorre-se uma trilha com liames aos conceitos de sabedoria, harmonia, verdade, bondade e beleza: será pouco?

São nítidas as alusões à teoria das ideias ou das formas do filósofo grego, e, mais além, à situação dos poetas no sistema do Estado Ideal, por ele proposto em “A República”, ali onde os vates não eram muito bem vistos – daí o tom irônico da última estrofe, a associá-los a um plano mais terra a terra de existência.

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

Platon, czyli dlaczego

Z przyczyn niejasnych,
w okolicznościach nieznanych
Byt Idealny przestał sobie wystarczać.

Mógł przecież trwać i trwać bez końca,
ociosany z ciemności, wykuty z jasności,
w swoich sennych nad światem ogrodach.

Czemu, u licha, zaczął szukać wrażeń
w złym towarzystwie materii?

Na co mu naśladowcy
niewydarzeni, pechowi,
bez widoków na wieczność?

Mądrość kulawa
z cierniem wbitym w piętę?
Harmonia rozrywana
przez wzburzone wody?
Piękno
z niepowabnymi w środku jelitami
i Dobro
– po co z cieniem,
jeśli go wcześniej nie miało?

Musiał być jakiś powód,
choćby i drobny z pozoru,
ale tego nie zdradzi nawet Prawda Naga
zajęta przetrząsaniem
ziemskiej garderoby.

W dodatku ci okropni poeci, Platonie,
roznoszone podmuchem wióry spod posągów,
odpadki wielkiej na wyżynach Ciszy…

Jardins de Mirabell sob a neve: Salzburgo
(Marc Dalessio: pintor norte-americano)

Platão ou o Porquê

Por razões pouco claras,
sob desconhecidas circunstâncias,
o Ser Ideal deixou de bastar-se a si mesmo.

Afinal, poderia ter durado, e durado indefinidamente,
lavrado sobre a escuridão, cinzelado pela luminosidade,
em seus jardins de sonho sobre o mundo.

Por que diabos começou a procurar por sensações
em má companhia da matéria?

Quem são os seus seguidores
ineptos, desafortunados,
sem visões de eternidade?

A Sabedoria trôpega
com um espinho cravado no calcanhar?
A Harmonia rompida
por águas turbulentas?
A Beleza
com entranhas nada agradáveis?
E o bem
– por que com uma sombra,
se antes não a tinha?

Deve ter havido algum motivo,
ainda que aparentemente pouco relevante,
embora nem mesmo a Verdade Nua será capaz de o revelar,
estando ocupada
com o vestuário terreno.

Além disso, esses deploráveis poetas, Platão,
lascas que a brisa esparge da base das estátuas,
resíduos do grande Silêncio nas alturas...

Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. Platon, czyli dlaczego. In: __________. Chwila. Kraków, PL: Wydawnictwo Znak, 2002. s. 17.

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