A poesia de Szymborska é uma poderosa ferramenta a descrever o mundo,
com lirismo e timbre filosófico, capaz de suscitar interesse no leitor, em
especial quando se detém sobre os absurdos e os paradoxos da existência. Aqui,
num só poema, percorre-se uma trilha com liames aos conceitos de sabedoria,
harmonia, verdade, bondade e beleza: será pouco?
São nítidas as alusões à teoria das ideias ou das formas do filósofo
grego, e, mais além, à situação dos poetas no sistema do Estado Ideal, por ele
proposto em “A República”, ali onde os vates não eram muito bem vistos – daí o
tom irônico da última estrofe, a associá-los a um plano mais terra a terra de
existência.
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Platon, czyli dlaczego
Z przyczyn
niejasnych,
w okolicznościach
nieznanych
Byt Idealny przestał
sobie wystarczać.
Mógł przecież trwać i
trwać bez końca,
ociosany z ciemności,
wykuty z jasności,
w swoich sennych nad
światem ogrodach.
Czemu, u licha,
zaczął szukać wrażeń
w złym towarzystwie
materii?
Na co mu naśladowcy
niewydarzeni,
pechowi,
bez widoków na
wieczność?
Mądrość kulawa
z cierniem wbitym w
piętę?
Harmonia rozrywana
przez wzburzone wody?
Piękno
z niepowabnymi w
środku jelitami
i Dobro
– po co z cieniem,
jeśli go wcześniej
nie miało?
Musiał być jakiś
powód,
choćby i drobny z
pozoru,
ale tego nie zdradzi
nawet Prawda Naga
zajęta przetrząsaniem
ziemskiej garderoby.
W dodatku ci okropni
poeci, Platonie,
roznoszone podmuchem
wióry spod posągów,
odpadki wielkiej na
wyżynach Ciszy…
Jardins de Mirabell sob a neve: Salzburgo
(Marc Dalessio:
pintor norte-americano)
Platão ou o Porquê
Por razões pouco
claras,
sob desconhecidas circunstâncias,
o Ser Ideal deixou de
bastar-se a si mesmo.
Afinal, poderia ter
durado, e durado indefinidamente,
lavrado sobre a
escuridão, cinzelado pela luminosidade,
em seus jardins de
sonho sobre o mundo.
Por que diabos
começou a procurar por sensações
em má companhia da
matéria?
Quem são os seus
seguidores
ineptos,
desafortunados,
sem visões de
eternidade?
A Sabedoria trôpega
com um espinho
cravado no calcanhar?
A Harmonia rompida
por águas
turbulentas?
A Beleza
com entranhas nada agradáveis?
E o bem
– por que com uma
sombra,
se antes não a tinha?
Deve ter havido algum
motivo,
ainda que aparentemente
pouco relevante,
embora nem mesmo a Verdade
Nua será capaz de o revelar,
estando ocupada
com o vestuário
terreno.
Além disso, esses deploráveis
poetas, Platão,
lascas que a brisa
esparge da base das estátuas,
resíduos do grande
Silêncio nas alturas...
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Platon, czyli
dlaczego. In: __________. Chwila. Kraków, PL: Wydawnictwo Znak, 2002. s. 17.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário