O poeta argentino propõe-nos uma espécie de programa, para que possamos
atribuir às palavras todo o potencial de que são capazes, quer enredando-as em jogos
de palavras, quer delimitando os efeitos que se estabelecem na ausência delas,
antes que venham a ser pronunciadas – na quietude do silêncio, portanto.
Elas pairam como um pássaro no ar, e ainda que não haja o lado tangível
do pássaro, mesmo no vazio, elas se estabelecem na definição do que seja
exatamente um pássaro a cruzar o azul. Ou ainda: na ausência ou na presença do
pássaro, as palavras que o definem lhe são pré-existentes.
J.A.R. – H.C.
Roberto Juarroz
(1925-1995)
Poemas de Otredad
17
Detener la palabra
un segundo antes del
labio,
un segundo antes de
la voracidad compartida,
un segundo antes del
corazón del otro,
para que haya por lo
menos un pájaro
que puede prescindir
de todo nido.
El destino es de
aire.
Las brújulas señalan
uno solo de sus hilos,
pero la ausencia
necesita otros
para que las cosas
sean
su destino de aire.
La palabra es el
único pájaro
que puede ser igual a
su ausencia.
Montanha Magnética
(Kurt Seligmann:
pintor suíço-americano)
Poemas de Otredad
17
Segurar a palavra
um segundo antes do
lábio,
um segundo antes da voracidade
compartilhada,
um segundo antes do
coração do outro,
para que haja ao
menos um pássaro
que possa prescindir
de todo ninho.
O destino é de ar.
As bússolas indicam um
só de seus pontos,
mas a ausência
precisa de outros
para que as coisas
sejam
seu destino de ar.
A palavra é o único
pássaro
que pode ser igual a
sua ausência.
Referência:
JUARROZ, Roberto. Poemas de otredad:
17. Tradução de Reynaldo Damazio. In: MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira argenta: poesia em tradução.
Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio Negro, 2017. Em espanhol: 146; em
português: 147.
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