Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Roberto Juarroz - Poemas de Otredad: 17

O poeta argentino propõe-nos uma espécie de programa, para que possamos atribuir às palavras todo o potencial de que são capazes, quer enredando-as em jogos de palavras, quer delimitando os efeitos que se estabelecem na ausência delas, antes que venham a ser pronunciadas – na quietude do silêncio, portanto.

Elas pairam como um pássaro no ar, e ainda que não haja o lado tangível do pássaro, mesmo no vazio, elas se estabelecem na definição do que seja exatamente um pássaro a cruzar o azul. Ou ainda: na ausência ou na presença do pássaro, as palavras que o definem lhe são pré-existentes.

J.A.R. – H.C.

Roberto Juarroz
(1925-1995)

Poemas de Otredad

17

Detener la palabra
un segundo antes del labio,
un segundo antes de la voracidad compartida,
un segundo antes del corazón del otro,
para que haya por lo menos un pájaro
que puede prescindir de todo nido.

El destino es de aire.
Las brújulas señalan uno solo de sus hilos,
pero la ausencia necesita otros
para que las cosas sean
su destino de aire.

La palabra es el único pájaro
que puede ser igual a su ausencia.

Montanha Magnética
(Kurt Seligmann: pintor suíço-americano)

Poemas de Otredad

17

Segurar a palavra
um segundo antes do lábio,
um segundo antes da voracidade compartilhada,
um segundo antes do coração do outro,
para que haja ao menos um pássaro
que possa prescindir de todo ninho.

O destino é de ar.
As bússolas indicam um só de seus pontos,
mas a ausência precisa de outros
para que as coisas sejam
seu destino de ar.

A palavra é o único pássaro
que pode ser igual a sua ausência.

Referência:

JUARROZ, Roberto. Poemas de otredad: 17. Tradução de Reynaldo Damazio. In: MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira argenta: poesia em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio Negro, 2017. Em espanhol: 146; em português: 147.

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