Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de abril de 2019

João Maia - Como a onda

O poeta lusitano (1923-1999) compara a feitura do poema como o fluxo de uma onda que, plena de vida, assoma no horizonte, carregando a mente do vate de sugestões, impressões, sentimentos, pressentimentos, desassossegos, instigações, porfias, desafios linguísticos.

E quando ela desborda na praia, a onda – ou o poema – esvai-se, superada por outra onda ainda mais perfeita, como se a criação poética fosse a arte de se criar poemas sempre a avançar ao limite da perfeição. Mas o que seria exatamente o ser perfeito no âmbito da poética? Afinal, se existem tantas escolas literárias no curso da história, talvez seja porque os escritores e os teóricos da literatura ainda não tenham chegado a um denominador comum quanto à matéria.

J.A.R. – H.C.

Entre as ondas
(Ivan Aivazovsky: pintor russo)

Como a onda

Como a onda a um toque de vento,
Principia um poema,
Lá longe,
No mar largo da vida.

Junta as coisas perdidas
À força que o levanta:
– Vozes, acenos, olhares,
As frases sem motivo,
Leves espumas.

Cresce cantando,
Cresce reunindo e caminhando
À Síntese eleita
E morre como a onda, ao encontrar
Outra onda mais pura e mais perfeita.

Em: “Écloga Impossível” (1960)

A nona onda
(Ivan Aivazovsky: pintor russo)

Referência:

MAIA, João. Como a onda. In: TAMEN, Pedro (Organização, prefácio e notas). 20 anos de poesia portuguesa. 20 Anos da Coleção ‘Círculo de Poesia’. Lisboa, PT: Moraes Editora, 1977. p. 89. (‘Círculo de Poesia’; v. 79)

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