O poeta lusitano (1923-1999) compara a feitura do poema como o fluxo de
uma onda que, plena de vida, assoma no horizonte, carregando a mente do vate de
sugestões, impressões, sentimentos, pressentimentos, desassossegos,
instigações, porfias, desafios linguísticos.
E quando ela desborda na praia, a onda – ou o poema – esvai-se, superada
por outra onda ainda mais perfeita, como se a criação poética fosse a arte de
se criar poemas sempre a avançar ao limite da perfeição. Mas o que seria
exatamente o ser perfeito no âmbito da poética? Afinal, se existem tantas
escolas literárias no curso da história, talvez seja porque os escritores e os
teóricos da literatura ainda não tenham chegado a um denominador comum quanto à
matéria.
J.A.R. – H.C.
Entre as ondas
(Ivan Aivazovsky:
pintor russo)
Como a onda
Como a onda a um
toque de vento,
Principia um poema,
Lá longe,
No mar largo da vida.
Junta as coisas
perdidas
À força que o
levanta:
– Vozes, acenos,
olhares,
As frases sem motivo,
Leves espumas.
Cresce cantando,
Cresce reunindo e
caminhando
À Síntese eleita
E morre como a onda,
ao encontrar
Outra onda mais pura
e mais perfeita.
Em: “Écloga Impossível” (1960)
A nona onda
(Ivan Aivazovsky:
pintor russo)
Referência:
MAIA, João. Como a onda. In: TAMEN,
Pedro (Organização, prefácio e notas). 20
anos de poesia portuguesa. 20 Anos da Coleção ‘Círculo de Poesia’. Lisboa,
PT: Moraes Editora, 1977. p. 89. (‘Círculo de Poesia’; v. 79)
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