Dedicado à também poetisa, além de ativista de direitos civis russa Natalia
Gorbanievskaya, o poema direciona-se à figura do político, que a tudo parece
comandar e de tudo parece dispor, no exercício do poder – “podres poderes” como
diria o Caetano Veloso –, pois Natalia chegou a ser presa pelos soviéticos num
hospital psiquiátrico – sem estar demente –, antes de migrar para a França e,
depois, para a Polônia.
Na contingência do momento, aqui por estas paragens, vê-se como os “homens
políticos” estropiam os direitos dos outros, ou melhor, de seus compatriotas,
tudo em benefício do grande capital, que não merece os favores da espécie: ou o
que seria a famigerada Reforma da Previdência senão uma forma de migrar a
poupança do país para o já abastado sistema financeiro – de onde, aliás, adveio
o principal proponente de tal reforma, vale dizer, Paulo Guedes?!
J.A.R. – H.C.
Hilda Hilst
(1930-2004)
Poemas aos homens do nosso tempo
III
Homenagem a
Natalia Gorbanievskaya
Sobre o vosso jazigo
– Homem político –
Nem compaixão, nem
flores
Apenas o escuro grito
Dos homens.
Sobre os vossos
filhos
– Home político –
A desventura
Do vosso nome.
E enquanto estiverdes
À frente da Pátria
Sobre nós, a mordaça.
E sobre as vossas
vidas
– Homem político –
Inexoravelmente,
nossa morte.
Natalia Gorbanievskaya
(1936-2013)
Referência:
HILST, Hilda. Poemas aos homens do
nosso tempo: III. In: ANDRADE, Mário de et al. 50 poemas de revolta. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras,
2017. p. 58-59.
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