Aos que atentam contra a boa saúde da poesia, Couto reverbera o estado
melancólico dessa senhora, que ainda assim “abençoa a trágica doçura da vida”,
a lançar palavras sobre o jardim das obras que as recolhem, preservando os
inúmeros ‘insights’ que atravessaram as mentes desses autênticos visionários:
os poetas.
Já vezes sem conta anunciaram o fim da poesia. Mas ela assemelha-se a
uma necessidade vital, sem a qual o espírito humano pode arruinar-se, tornando-se
árido, incapaz de interagir com o inapreensível, o inaudito, o imperscrutável –aliás,
a parte mais bela do mágico mundo onde estamos imersos!
J.A.R. – H.C.
Ribeiro Couto
(1898-1963)
Poesia
E te envolverão com
atitudes sinistras.
E desejarão
secretamente a tua morte.
E atirarão sobre a
tua cabeça
O riso fácil das
incompreensões.
Entretanto, dentro de
ti, indiferentes,
Como a chuva mansa
caindo num jardim,
As palavras
melancólicas de poesia
Abençoarão a trágica
doçura da vida.
Em: “Um Homem na Multidão” (1921-1924)
Ponte do Príncipe: Melbourne (AU)
(Frederick McCubbin:
pintor australiano)
Referência:
COUTO, Ribeiro. A poesia. In:
__________. Poesias reunidas. 1. ed.
Rio de Janeiro, GB: José Olympio, 1960. p. 137.
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