Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 23 de abril de 2019

Maria Lúcia Dal Farra - Poética

O voo de imaginação, no caso da poetisa, parece-se a um processo de metamorfoseamento por que passam, v.g., as lagartas até que venham a se tornar belíssimas borboletas: é a muda para uma outra esfera, aquela em que são permitidas todas as hipóteses, mesmo ao largo de toda lógica, isto porque, de fato, a beleza dela prescinde.

As palavras são pérolas que se associam às coisas que descrevem, formando um maleável amálgama que se oferece à plena manipulação pelo poeta – esse verdadeiro geômetra capaz de expandir mundos ao mundo –, quer à flora, quer à fauna, quer ainda ao mineral domínio – que imoto não está, mas pervagando como tudo no universo.

J.A.R. – H.C.

Maria Lúcia Dal Farra
(n. 1944)

Poética

De botânica tudo ignoro
mas amo as palavras
e as árvores e as flores
e as abelhas que as inventam
e o inseto a quem emprestam cor
e a aranha que lhes filtra (geométrica) a luz,
o gafanhoto, o besouro
a borboleta.

Elos do mesmo vegetal
estes contêm aqueles –
são deles a entranhada memória
a mala:
a muda
no salto para outra esfera.

Eis como a pétala ganha asas.
Eis como voo.

Natureza-Morta
(Ambrosius Bosschaert II: pintor holandês)

Referência:

FARRA, Maria Lúcia Dal. Poética. In: __________. Alumbramentos. 1. ed. São Paulo, SP: Iluminuras, 2011. p. 104.

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