Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Paul Verlaine - A angústia

De um homem inconsolável, este poema nos diz do sofrimento do poeta, que já não se encanta com os dons da natureza, o pôr do sol ou mesmo as artes, pondo-se contraditoriamente a rir de tudo: do próprio homem, da poesia, dos méritos da Antiguidade, da divindade, revelando um ateísmo subtraído às circunstâncias.

Entre o desgosto pela vida e o medo de morrer, Verlaine expressa em palavras uma hipotética perspectiva de valores – como diria? – talvez idealista em excesso, lindeira ao niilismo, haja vista que, como se disse, plena de indiferença e desprezo pelo que constitui a vida, numa rejeição acerba da existência.

J.A.R. – H.C.

Paul Verlaine
(1844-1896)

L’angoisse

Nature, rien de toi ne m’émeut, ni les champs
Nourriciers, ni l’écho vermeil des pastorales
Siciliennes, ni les pompes aurorales,
Ni la solennité dolente des couchants.

Je ris de l’Art, je ris de l’Homme aussi, des chants,
Des vers, des temples grecs et des tours en spirales
Qu’étirent dans le ciel vide les cathédrales,
Et je vois du même oeil les bons et les méchants.

Je ne crois pas en Dieu, j’abjure et je renie
Toute pensée, et quant à la vieille ironie,
L’Amour, je voudrais bien qu’on ne m’en parlât plus.

Lasse de vivre, ayant peur de mourir, pareille
Au brick perdu jouet du flux et du reflux,
Mon âme pour d’affreux naufrages appareille.

Dans: “Melancholia” (“Poèmes saturniens”; 1866)

Noite Enluarada
(Vladimir Volosov: pintor russo)

A angústia

Nada em ti me comove, ó doce natureza,
Nem campos nem os sons rubros das pastorais
Sicilianas, nem as pompas aurorais,
Nem os poentes de tão solene tristeza.

Rio do homem, dos cantos, rio da beleza
Dos templos gregos, das torres em espirais
Que estendem para o céu vazio as catedrais,
Para mim são iguais a bondade e a torpeza.

Não acredito em Deus, abjuro a fantasia,
O pensamento, e quanto à antiquada ironia,
O amor, que eu nunca mais à sua sombria ligue.

Medrosa de morrer, a minha alma semelha
No jogo das marés o mais perdido brigue:
Para o horror do naufrágio agora se aparelha.

Em: “Melancolia” (“Poemas Saturnianos”; 1866)

Referências:

Em Francês

VERLAINE, Paul. L’angoisse. In: __________. Poems under saturn / Poèmes saturniens. A bilingual edition translated and with na introduction by Karl Kirchwey (French / English). Princeton, NJ: Princeton University Press, 2011. p. 30.

Em Português

VERLAINE, Paul. A angústia. Tradução de Jamil Almansur Haddad. In: __________. Passeio sentimental (poemas). Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1989. p. 41-42.

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