De um homem inconsolável, este poema nos diz do sofrimento do poeta, que
já não se encanta com os dons da natureza, o pôr do sol ou mesmo as artes,
pondo-se contraditoriamente a rir de tudo: do próprio homem, da poesia, dos
méritos da Antiguidade, da divindade, revelando um ateísmo subtraído às
circunstâncias.
Entre o desgosto pela vida e o medo de morrer, Verlaine expressa em palavras
uma hipotética perspectiva de valores – como diria? – talvez idealista em
excesso, lindeira ao niilismo, haja vista que, como se disse, plena de
indiferença e desprezo pelo que constitui a vida, numa rejeição acerba da
existência.
J.A.R. – H.C.
Paul Verlaine
(1844-1896)
L’angoisse
Nature, rien de toi
ne m’émeut, ni les champs
Nourriciers, ni
l’écho vermeil des pastorales
Siciliennes, ni les
pompes aurorales,
Ni la solennité
dolente des couchants.
Je ris de l’Art, je
ris de l’Homme aussi, des chants,
Des vers, des temples
grecs et des tours en spirales
Qu’étirent dans le
ciel vide les cathédrales,
Et je vois du même
oeil les bons et les méchants.
Je ne crois pas en
Dieu, j’abjure et je renie
Toute pensée, et
quant à la vieille ironie,
L’Amour, je voudrais
bien qu’on ne m’en parlât plus.
Lasse de vivre, ayant
peur de mourir, pareille
Au brick perdu jouet
du flux et du reflux,
Mon âme pour
d’affreux naufrages appareille.
Dans: “Melancholia” (“Poèmes saturniens”;
1866)
Noite Enluarada
(Vladimir Volosov:
pintor russo)
A angústia
Nada em ti me comove,
ó doce natureza,
Nem campos nem os
sons rubros das pastorais
Sicilianas, nem as
pompas aurorais,
Nem os poentes de tão
solene tristeza.
Rio do homem, dos
cantos, rio da beleza
Dos templos gregos,
das torres em espirais
Que estendem para o
céu vazio as catedrais,
Para mim são iguais a
bondade e a torpeza.
Não acredito em Deus,
abjuro a fantasia,
O pensamento, e
quanto à antiquada ironia,
O amor, que eu nunca
mais à sua sombria ligue.
Medrosa de morrer, a
minha alma semelha
No jogo das marés o
mais perdido brigue:
Para o horror do
naufrágio agora se aparelha.
Em: “Melancolia” (“Poemas Saturnianos”;
1866)
Referências:
Em Francês
VERLAINE, Paul. L’angoisse. In:
__________. Poems under saturn / Poèmes
saturniens. A bilingual edition translated and with na introduction by Karl
Kirchwey (French / English). Princeton, NJ: Princeton University Press, 2011.
p. 30.
Em Português
VERLAINE, Paul. A angústia. Tradução de
Jamil Almansur Haddad. In: __________. Passeio
sentimental (poemas). Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur
Haddad. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1989. p. 41-42.
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