Muito do modo de agir dos advogados é sumariado neste poema de Sandburg:
quando os fatos são contra o acusado, passam eles – digo melhor, os advogados
de defesa – a discutir a adequação da lei à realidade social, o quanto são “irrazoáveis,
injustas as circunstâncias” sob as quais se pretende levar um réu à condenação.
Quando a lei ampara o direito da parte adversa à dos advogados em causa,
eles mudam de estratégia: passam a discutir os fatos, ou melhor, a pouca
aderência deles à hipótese prevista em lei. Tudo isso porque, por trás de tudo,
há a dimensão valorativa, axiológica do Direito. Se não fosse assim, como se
sustentaria a máxima das máximas de quem milita na área?: “Aos amigos, os
favores da lei; aos inimigos, os rigores da lei!”
J.A.R. – H.C.
Carl Sandburg
(1878-1967)
The Lawyer
When the jury files
in to deliver a verdict after weeks of direct
and cross examinations,
hot clashes of lawyers and cool
decisions of the
judge,
There are points of
high silence – twiddling of thumbs is at an
end – bailiffs near
cuspidors take fresh chews of tobacco
and wait – and the
clock has a chance for its ticking to
be heard.
A lawyer for the
defense clears his throat and holds himself
ready if the word is
“Guilty” to enter motion for a new
trial, speaking in a
soft voice, speaking in a voice slightly
colored with bitter
wrongs mingled with monumental
patience, speaking with
mythic Atlas shoulders of many
preposterous, unjust
circumstances.
O julgamento do apóstolo Paulo
(Nikolai Bodarevsky:
pintor ucraniano)
O Advogado
Quando o júri se apresenta para entregar um veredito depois de
semanas de interrogatórios
diretos e cruzados, enfrentamentos
quentes entre os advogados e frias decisões do juiz,
Sobrevêm momentos de intenso
silêncio – aproximam-se do fim
os estados evasivos –
os oficiais de justiça perto dos cuspidores
tomam novas porções
de tabaco de mascar e aguardam – e
tem-se a chance de se escutar o tique-taque do relógio.
tem-se a chance de se escutar o tique-taque do relógio.
Um advogado de defesa
pigarreia e se mantém atento para o caso
de se ouvir a palavra
“Culpado”, quando então formulará uma
moção para novo julgamento,
falando em voz baixa,
ligeiramente
colorida por erros penosos e
mesclada a uma
monumental paciência, a discorrer com os
míticos ombros de
Atlas sobre as irrazoáveis, injustas
circunstâncias.
Referência:
SANDURG, Carl. The lawyer. In: KEILLOR,
Garrison (Selection and Introduction). Good
poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 201.
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