Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Carl Sandburg - O Advogado

Muito do modo de agir dos advogados é sumariado neste poema de Sandburg: quando os fatos são contra o acusado, passam eles – digo melhor, os advogados de defesa – a discutir a adequação da lei à realidade social, o quanto são “irrazoáveis, injustas as circunstâncias” sob as quais se pretende levar um réu à condenação.

Quando a lei ampara o direito da parte adversa à dos advogados em causa, eles mudam de estratégia: passam a discutir os fatos, ou melhor, a pouca aderência deles à hipótese prevista em lei. Tudo isso porque, por trás de tudo, há a dimensão valorativa, axiológica do Direito. Se não fosse assim, como se sustentaria a máxima das máximas de quem milita na área?: “Aos amigos, os favores da lei; aos inimigos, os rigores da lei!”

J.A.R. – H.C.

Carl Sandburg
(1878-1967)

The Lawyer

When the jury files in to deliver a verdict after weeks of direct
and cross examinations, hot clashes of lawyers and cool
decisions of the judge,
There are points of high silence – twiddling of thumbs is at an
end – bailiffs near cuspidors take fresh chews of tobacco
and wait – and the clock has a chance for its ticking to
be heard.
A lawyer for the defense clears his throat and holds himself
ready if the word is “Guilty” to enter motion for a new
trial, speaking in a soft voice, speaking in a voice slightly
colored with bitter wrongs mingled with monumental
patience, speaking with mythic Atlas shoulders of many
preposterous, unjust circumstances.

O julgamento do apóstolo Paulo
(Nikolai Bodarevsky: pintor ucraniano)

O Advogado

Quando o júri se apresenta para entregar um veredito depois de
semanas de interrogatórios diretos e cruzados, enfrentamentos
quentes entre os advogados e frias decisões do juiz,
Sobrevêm momentos de intenso silêncio – aproximam-se do fim
os estados evasivos – os oficiais de justiça perto dos cuspidores
tomam novas porções de tabaco de mascar e aguardam – e
tem-se a chance de se escutar o tique-taque do relógio.
Um advogado de defesa pigarreia e se mantém atento para o caso
de se ouvir a palavra “Culpado”, quando então formulará uma
moção para novo julgamento, falando em voz baixa,
ligeiramente colorida por erros penosos e mesclada a uma 
monumental paciência, a discorrer com os míticos ombros de
Atlas sobre as irrazoáveis, injustas circunstâncias.

Referência:

SANDURG, Carl. The lawyer. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 201.

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