A partir de um objeto inanimado – uma pedra –, o poeta constrói um argumento
capaz de resultar num belo poema: talvez esteja ele tentando apresentar-nos uma
metáfora capaz de representar aquelas pessoas frias e sensatas com quem tão costumeiramente
deparamos, que por mais que sejam confrontadas, conseguem se manter em
equilíbrio.
Ou não: às vezes saltam chispas daquele estado imperturbável, mostrando
que há algum elemento de fogo em seu interior: logo, é melhor não avançar o
sinal quando em convívio com pessoas muito quietas – elas podem fazer emergir
um vulcão quando são incitadas até o limite de sua capacidade para aturar
desditas.
J.A.R. – H.C.
Charles Simic
(n. 1938)
Stone
Go inside a stone
That would be my way.
Let somebody else
become a dove
Or gnash with a tiger’s
tooth.
I am happy to be a
stone.
From the outside the
stone is a riddle:
No one knows how to
answer it.
Yet within, it must
be cool and quiet
Even though a cow
steps on it full weight,
Even though a child
throws it in a river;
The stone sinks,
slow, unperturbed
To the river bottom
Where the fishes come
to knock on it
And listen.
I have seen sparks
fly out
When two stones are
rubbed,
So perhaps it is not
dark inside after all;
Perhaps there is a
moon shining
From somewhere, as
though behind a hill –
Just enough light to
make out
The strange writings,
the star charts
On the inner walls.
Pedras num jardim
(Asya Zalenskaya:
pintora russa)
Pedra
Insinuar-se em uma
pedra:
Esse seria o meu
caminho.
Que outro alguém se converta
em pomba
Ou ranja com dentes
de tigre.
Sinto-me feliz por
ser uma pedra.
Vista por fora, a
pedra é um enigma:
ninguém sabe como
decifrá-la.
Contudo, por dentro
deve ser suave e quieta,
mesmo quando uma vaca
a pisa com todo o peso,
ou quando uma criança
a arremessa num rio;
a pedra imerge lenta,
imperturbável
até o fundo do rio,
onde os peixes põem-se
a tini-la
para a escutar.
Podem-se ver disparos
de chispas
quando se atritam duas
pedras.
Assim, lá dentro,
talvez não seja escuro.
Talvez haja uma lua
brilhando desde algum lugar,
como se por trás de
uma colina estivesse –
com luz suficiente
para decifrar
os estranhos
escritos, as cartas estelares
nas paredes internas.
Referência:
SIMIC, Charles. Stone. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 353.
SIMIC, Charles. Stone. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 353.
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