Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de abril de 2019

Charles Simic - Pedra

A partir de um objeto inanimado – uma pedra –, o poeta constrói um argumento capaz de resultar num belo poema: talvez esteja ele tentando apresentar-nos uma metáfora capaz de representar aquelas pessoas frias e sensatas com quem tão costumeiramente deparamos, que por mais que sejam confrontadas, conseguem se manter em equilíbrio.

Ou não: às vezes saltam chispas daquele estado imperturbável, mostrando que há algum elemento de fogo em seu interior: logo, é melhor não avançar o sinal quando em convívio com pessoas muito quietas – elas podem fazer emergir um vulcão quando são incitadas até o limite de sua capacidade para aturar desditas.

J.A.R. – H.C.

Charles Simic
(n. 1938)

Stone

Go inside a stone
That would be my way.
Let somebody else become a dove
Or gnash with a tiger’s tooth.
I am happy to be a stone.

From the outside the stone is a riddle:
No one knows how to answer it.
Yet within, it must be cool and quiet
Even though a cow steps on it full weight,
Even though a child throws it in a river;
The stone sinks, slow, unperturbed
To the river bottom
Where the fishes come to knock on it
And listen.

I have seen sparks fly out
When two stones are rubbed,
So perhaps it is not dark inside after all;
Perhaps there is a moon shining
From somewhere, as though behind a hill –
Just enough light to make out
The strange writings, the star charts
On the inner walls.

Pedras num jardim
(Asya Zalenskaya: pintora russa)

Pedra

Insinuar-se em uma pedra:
Esse seria o meu caminho.
Que outro alguém se converta em pomba
Ou ranja com dentes de tigre.
Sinto-me feliz por ser uma pedra.

Vista por fora, a pedra é um enigma:
ninguém sabe como decifrá-la.
Contudo, por dentro deve ser suave e quieta,
mesmo quando uma vaca a pisa com todo o peso,
ou quando uma criança a arremessa num rio;
a pedra imerge lenta, imperturbável
até o fundo do rio,
onde os peixes põem-se a tini-la
para a escutar.

Podem-se ver disparos de chispas
quando se atritam duas pedras.
Assim, lá dentro, talvez não seja escuro.
Talvez haja uma lua brilhando desde algum lugar,
como se por trás de uma colina estivesse –
com luz suficiente para decifrar
os estranhos escritos, as cartas estelares
nas paredes internas.

Referência:

SIMIC, Charles. Stone. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 353.

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