O professor e poeta canadense põe-se a imaginar a oposição que Noé teve
que suportar de seus pares, por construir uma arca em que apenas aqueles que
nela adentrassem se salvariam do dilúvio que cobriria toda a terra: o que a
termo ocorreu, todos sabemos pela narrativa inserta no Gênesis.
Hoje se sabe que o enredo diluviano aparece vezes sem conta nas
mitologias antigas, da Mesopotâmia à Índia, o que levou os cientistas a
proporem hipóteses mais compatíveis com os achados da paleontologia, da
geologia, da arqueologia e da história natural – haja vista que não há evidências
que sustentem a hipótese de um dilúvio mundial, como a assente nas páginas
bíblicas.
J.A.R. – H.C.
Roy Daniells
(1902-1979)
Noah
They gathered around
and told him not to do it,
They formed a
committee and tried to take control,
They cancelled his building
permit and they stole
His plans. I
sometimes wonder he got through it.
He told them wrath
was coming, they would rue it,
He begged them to
believe the tides would roll,
He offered them
passage to his destined goal,
A new world. They
were finished and he knew it.
All to no end.
And then the rain
began.
A spatter at first
that barely wet the soil,
Then showers, quick
rivulets lacing the town,
Then deluge
universal. The old man
Arthritic from his
years of scorn and toil
Leaned from the
admiral’s walk and watched them drown.
A Arca de Noé
(Cajetan Roos: pintor
ítalo-germânico)
Noé
Reuniram-se e lhe
disseram que não a fizesse,
Formaram um comitê e
tentaram assumir o controle,
Cancelaram sua
permissão de construção e lhe roubaram
Os planos. Às vezes
pergunto-me se conseguiu erigi-la inteira.
Ele lhes disse que a
ira chegaria, que a lamentariam,
Implorou-lhes que
acreditassem que as marés irromperiam,
Ofereceu-lhes
passagem à meta que lhe destinaram,
Um novo mundo.
Estavam liquidados e ele sabia disso.
Todos sem ressalva.
E então começou a chuva.
A princípio um
respingar que mal umedecia o solo,
Depois aguaceiros,
rápidos córregos enlaçando a cidade,
E logo um dilúvio
universal. O velho homem,
Artrítico por seus
anos sob escárnio e em labuta,
Inclinou-se sobre o
eirado do almirante e os viu afogar-se.
Referência:
DANIELLS, Roy. Noah. In: KEILLOR,
Garrison (Selector and Introducer). Good
poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 90.
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