A consciência pungente da finitude e a impotência perante os mistérios
da vida levam ao estado anímico do poeta, que se deixa influenciar pelo cair da
noite, em meio ao jardim, seus aromas e o aconchego do lar: é o tempo que se
aproxima para carregar consigo os que sorvem o último sonho.
Como não se recordar, em associação direta, da obra “O tempo, esse
grande escultor”, de Marguerite Yourcenar (1983), com a diferença de que a
escritora belga não se volta tanto a esmiuçar a dúvida metafísica perto aos umbrais
da morte, senão a esclarecer como a beleza penetrou-lhe os olhos por meio das
obras de arte – suas e de terceiros?!
J.A.R. – H.C.
Francisco Brines
(n. 1932)
Nocturno del joven
El hombre, entre los
árboles, medita
con pasión sus
recuerdos. Le rodean
sombras profundas,
silenciosas alas
oscuras, más arriba
los viejísimos
astros. Piensa que
fue su vida luz,
y que los hombres y
las cosas eran
dignos de perdurar,
porque era eterno
su amor. Llegan desde
las blancas tapias
del jardín los
jazmines, y en el campo
los deja el aire
derramados. Mira
latir el faro en las
tinieblas, muda
la mar está,
presiente su constante
movimiento. La luz ya
está gastada,
y sabe que las cosas
que perduran
viven sin él, y que
los hombres niegan
todo el afán del
corazón. Inútil
como la estrella
vieja, como el faro
lejano y débil, mas
aún con vida.
Un balcón de la casa
se ha encendido,
llega de allí una
música. El huerto
tiembla bajo las
sombras, se recoge
en el sueño. Quien
reina así en el mundo
no es la noche, es el
tiempo. Lo penetran
sus ojos, y arrasados
por las lágrimas
regresan del
misterio. Se encamina
con paso lento hacia
la casa, va
con la mente sombría,
siente frío.
Homem sentado no jardim
(Auguste Chabaud:
pintor francês)
Noturno do jovem
O homem, entre as
árvores, medita
com paixão sobre suas
memórias. Rodeiam-lhe
sombras profundas,
silenciosas asas
escuras, mais acima
os velhíssimos
astros. Pensa que sua
vida foi luz,
e que os homens e as
coisas eram
dignos de perdurar,
porque eterno era
o seu amor. Chegam os
jasmins desde
os muros brancos do
jardim, e no campo
o ar deixa-os
derramados. Olha
o farol bater na
escuridão, mudo
está o mar, pressente
o seu constante
movimento. A luz já
está gasta,
e sabe que as coisas
que perduram
vivem sem ele, e que
os homens negam
toda a ambição do
coração. Inútil
como a velha estrela,
como o farol
distante e tênue, mas
ainda com vida.
Uma varanda da casa
foi acesa,
e de lá chega uma
música. O jardim
bole sob as sombras,
recolhe-se
no sonho. Quem reina
assim no mundo
não é a noite, mas o
tempo. Seus olhos
o penetram, e
arrasados pelas lágrimas
regressam do
mistério. Encaminha-se
a passos lentos até a
casa, vai
com a mente sombria,
sente frio.
Referência:
BRINES, Francisco. Nocturno del joven. In:
__________. Antología poética. Selección y prólogo de José Olivio Jiménez.
Madrid, ES: Alianza Editorial, 1986. p. 49-50. (“Sección: Literatura”; “El
Libro de Bolsillo”; LB 1190)
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