Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Francisco Brines - Noturno do jovem

A consciência pungente da finitude e a impotência perante os mistérios da vida levam ao estado anímico do poeta, que se deixa influenciar pelo cair da noite, em meio ao jardim, seus aromas e o aconchego do lar: é o tempo que se aproxima para carregar consigo os que sorvem o último sonho.

Como não se recordar, em associação direta, da obra “O tempo, esse grande escultor”, de Marguerite Yourcenar (1983), com a diferença de que a escritora belga não se volta tanto a esmiuçar a dúvida metafísica perto aos umbrais da morte, senão a esclarecer como a beleza penetrou-lhe os olhos por meio das obras de arte – suas e de terceiros?!

J.A.R. – H.C.

Francisco Brines
(n. 1932)

Nocturno del joven

El hombre, entre los árboles, medita
con pasión sus recuerdos. Le rodean
sombras profundas, silenciosas alas
oscuras, más arriba los viejísimos
astros. Piensa que fue su vida luz,
y que los hombres y las cosas eran
dignos de perdurar, porque era eterno
su amor. Llegan desde las blancas tapias
del jardín los jazmines, y en el campo
los deja el aire derramados. Mira
latir el faro en las tinieblas, muda
la mar está, presiente su constante
movimiento. La luz ya está gastada,
y sabe que las cosas que perduran
viven sin él, y que los hombres niegan
todo el afán del corazón. Inútil
como la estrella vieja, como el faro
lejano y débil, mas aún con vida.

Un balcón de la casa se ha encendido,
llega de allí una música. El huerto
tiembla bajo las sombras, se recoge
en el sueño. Quien reina así en el mundo
no es la noche, es el tiempo. Lo penetran
sus ojos, y arrasados por las lágrimas
regresan del misterio. Se encamina
con paso lento hacia la casa, va
con la mente sombría, siente frío.

Homem sentado no jardim
(Auguste Chabaud: pintor francês)

Noturno do jovem

O homem, entre as árvores, medita
com paixão sobre suas memórias. Rodeiam-lhe
sombras profundas, silenciosas asas
escuras, mais acima os velhíssimos
astros. Pensa que sua vida foi luz,
e que os homens e as coisas eram
dignos de perdurar, porque eterno era
o seu amor. Chegam os jasmins desde
os muros brancos do jardim, e no campo
o ar deixa-os derramados. Olha
o farol bater na escuridão, mudo
está o mar, pressente o seu constante
movimento. A luz já está gasta,
e sabe que as coisas que perduram
vivem sem ele, e que os homens negam
toda a ambição do coração. Inútil
como a velha estrela, como o farol
distante e tênue, mas ainda com vida.

Uma varanda da casa foi acesa,
e de lá chega uma música. O jardim
bole sob as sombras, recolhe-se
no sonho. Quem reina assim no mundo
não é a noite, mas o tempo. Seus olhos
o penetram, e arrasados pelas lágrimas
regressam do mistério. Encaminha-se
a passos lentos até a casa, vai
com a mente sombria, sente frio.

Referência:

BRINES, Francisco. Nocturno del joven. In: __________. Antología poética. Selección y prólogo de José Olivio Jiménez. Madrid, ES: Alianza Editorial, 1986. p. 49-50. (“Sección: Literatura”; “El Libro de Bolsillo”; LB 1190)

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