O poeta faz as vezes de um roteirista e nos conta uma história insólita:
um marinheiro que luta pela vida, depois de seu barco afundar no oceano,
consegue atingir a praia e, de tão cansado, acaba dormindo, circunstância que o
expõe à maré, que o leva de volta para o meio do oceano.
A moral da história assemelha-se à de quem trabalha tanto para atingir
um objetivo e, tendo-o alcançado, acaba por vê-lo arrebatado ladinamente por
quem só esteve surfando, até então, em maré mansa. Triste fim para quem lutou
isoladamente contra uma desventura e foi tragado, logo em seguida, por outra.
J.A.R. – H.C.
Geof Hewitt
(n. 1943)
The Sailor
In my movie the boat
goes under
And he alone survives
the night in the cold ocean,
Swimming he hopes in a
shoreward direction.
Daylight and he’s
still afloat, pawing the water
And doesn’t yet know
he’s only fifty feet from shore.
He goes under for
what will be the last time
But only a few feet
down scrapes the bottom.
He’s suddenly a
changed man and half hops, half swims
The remaining
distance, hauls himself waterlogged
Partway up the beach
before collapsing into sleep.
As he dreams the tide
comes in
And rolls him back to
sea.
Sinbad, o Marujo
(Paul Klee: pintor
suíço-alemão)
O Marinheiro
Em meu filme, o barco
vai a pique
E sozinho ele
sobrevive à noite no frio oceano.
Nadando, acena em
direção ao litoral.
Rompe a aurora e
ainda flutua, a bracejar na água,
Sem se dar conta de
que está a apenas cinquenta pés
da costa.
Ele imerge para o que
será o seu derradeiro momento,
Entretanto só mais alguns
pés e já dá com o fundo.
De repente é um homem
mudado e, meio aos saltos
meio a nado,
Cobre a distância
restante, arrasta-se encharcado
Enquanto sonha, a
maré sobe
E o leva de volta ao
mar.
Referência:
HEWITT, Geof. The sailor. In: KEILLOR,
Garrison (Selector and Introducer). Good
poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 259.
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