A fronteira da realidade é quase um sítio idílico, daí porque sonho e
realidade podem ser considerados como que irmãos gêmeos univitelinos: o garoto desejava
um cavalo capaz de voar, e arrastado pelos sonhos propunha-se a mantê-lo sob o
seu poder – mas a matéria dos sonhos evapora-se com o despertar.
E no progredir da idade haverá inúmeras trocas entre a essência do mundo
real e a dos sonhos e, nessa ambivalência, já não saberá o velho se a vida que
transcorreu foi um sonho ou o quer que seja: estamos numa “caverna”, como
Segismundo, ou sob a direta luz do sol – conscientes de todo bem e todo o mal?
J.A.R. – H.C.
Antonio Machado
(1875-1939)
Parábolas
I
Era un niño que
soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el
niño
y el caballito no
vio.
Con un caballito
blanco
el niño volvió a
soñar;
y por la crin lo
cogía…
¡Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo
cogido,
el niño se despertó.
Tenía el puño
cerrado.
¡El caballito voló!
Quedóse el niño muy
serio
pensando que no es
verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a
soñar.
Pero el niño se hizo
mozo
y el mozo tuvo un
amor,
y a su amada le
decía:
¿Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se
hizo viejo
pensaba: Todo es
soñar,
el caballito soñado
y el caballo de
verdad.
Y cuando le vino la
muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿Tú eres sueño?
¡Quién sabe si despertó!
En: “Campos de Castilla” (1907-1917)
Cavalo Surrealista
(Vasko Takovski:
artista macedônio)
Parábolas
I
Era um menino e
sonhava
Com um cavalo de
cartão.
Mas quando os olhos
abriu
O cavalinho não viu.
Com um cavalinho
branco
Ele voltou a sonhar:
Pela crina o
segurava…
Desta vez não
fugiria!
Mal o havia segurado,
O menino despertou.
Tinha seu punho
fechado.
O cavalinho voou!
O menino, muito
sério,
Pensou que não é
verdade
Um cavalinho sonhado.
E não voltou a
sonhar.
O menino ficou moço
E o moço teve um
amor,
E a sua amada dizia:
Tu és de verdade ou
não?
Quando o moço ficou
velho
Pensava: Tudo é
sonhar.
O cavalinho sonhado
E o cavalo de
verdade.
E quando a morte
chegou,
O velho e seu coração
Perguntava: És um
sonho?
Quem sabe então
despertou!
Em: “Campos de Castela” (1907-1917)
Referências:
Em Espanhol
MACHADO, Antonio. Parábolas. In:
__________. Poesias completas. 10.
ed. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1962. p. 163-164. (Colección Austral; nº 149)
Em Português
MACHADO, Antonio. Parábolas: I.
Tradução de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Org.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ:
Edições de Janeiro, 2014. p. 305-306.
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