Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 6 de abril de 2019

Antonio Machado - Parábolas: I

A fronteira da realidade é quase um sítio idílico, daí porque sonho e realidade podem ser considerados como que irmãos gêmeos univitelinos: o garoto desejava um cavalo capaz de voar, e arrastado pelos sonhos propunha-se a mantê-lo sob o seu poder – mas a matéria dos sonhos evapora-se com o despertar.

E no progredir da idade haverá inúmeras trocas entre a essência do mundo real e a dos sonhos e, nessa ambivalência, já não saberá o velho se a vida que transcorreu foi um sonho ou o quer que seja: estamos numa “caverna”, como Segismundo, ou sob a direta luz do sol – conscientes de todo bem e todo o mal?

J.A.R. – H.C.

Antonio Machado
(1875-1939)

Parábolas

I

Era un niño que soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el niño
y el caballito no vio.
Con un caballito blanco
el niño volvió a soñar;
y por la crin lo cogía…
¡Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo cogido,
el niño se despertó.
Tenía el puño cerrado.
¡El caballito voló!
Quedóse el niño muy serio
pensando que no es verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a soñar.
Pero el niño se hizo mozo
y el mozo tuvo un amor,
y a su amada le decía:
¿Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se hizo viejo
pensaba: Todo es soñar,
el caballito soñado
y el caballo de verdad.
Y cuando le vino la muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿Tú eres sueño?
¡Quién sabe si despertó!

En: “Campos de Castilla” (1907-1917)

Cavalo Surrealista
(Vasko Takovski: artista macedônio)

Parábolas

I

Era um menino e sonhava
Com um cavalo de cartão.
Mas quando os olhos abriu
O cavalinho não viu.
Com um cavalinho branco
Ele voltou a sonhar:
Pela crina o segurava…
Desta vez não fugiria!
Mal o havia segurado,
O menino despertou.
Tinha seu punho fechado.
O cavalinho voou!
O menino, muito sério,
Pensou que não é verdade
Um cavalinho sonhado.
E não voltou a sonhar.
O menino ficou moço
E o moço teve um amor,
E a sua amada dizia:
Tu és de verdade ou não?
Quando o moço ficou velho
Pensava: Tudo é sonhar.
O cavalinho sonhado
E o cavalo de verdade.
E quando a morte chegou,
O velho e seu coração
Perguntava: És um sonho?
Quem sabe então despertou!

Em: “Campos de Castela” (1907-1917)

Referências:

Em Espanhol

MACHADO, Antonio. Parábolas. In: __________. Poesias completas. 10. ed. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1962. p. 163-164. (Colección Austral; nº 149)

Em Português

MACHADO, Antonio. Parábolas: I. Tradução de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Org.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 305-306.

Nenhum comentário:

Postar um comentário