Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Johannes Bobrowski - A pátria do pintor Chagall

Bobrowski, poeta e escritor alemão, decerto dialoga, neste poema, com um outro poema de Chagall – que, de fato, foi um grande pintor russo-francês de origem judaica –, já aqui postado, qual seja, “Só é meu o país que trago dentro da alma” (“Seul est mien le pays qui se trouve dans mon ame”), na tradução de Manuel Bandeira.

 

Os versos remetem à tradição judaica do leste europeu, com suas lendas e contos de fadas, lastro cultural que sofreu o forte impacto das perseguições da 2GM. Note-se que as palavras de Bobrowski engendram certa visão apocalíptica à volta da cidade onde Chagall nasceu – Witebsk, hoje localizada na Bielorússia –, destruída naquela conflagração, ao mesmo tempo que procura projetar um mundo de catarse e redenção.

 

J.A.R. – H.C.

 

Johannes Bobrowski

(1917-1965)

 

Die Heimat des Malers Chagall

 

Noch um die Häuser

der Wälder trockener Duft,

Rauschbeere und Erdmoos.

Und die Wolke Abend,

sinkend um Witebsk, aus eigener

Finsternis tönend. Ein schütt’res

Lachen darin, als der Ahn

lugte vom Dach

in den Hochzeitstag.

 

Und wir hingen in Träumen.

Aber es ist Verläßliches

um unsrer Väter Heimatgestirne gegangen,

bärtig, wie Engel, und zitternden Mundes,

mit Flügeln aus Weizenfeldern:

 

Nähe des Künftigen, dieser

brennende Hörnerschall

da es dunkelt, die Stadt

schwimmt durch Gewölk,

rot.

 

A noiva com um rosto azul

(Marc Chagall: pintor russo-francês)

 

A pátria do pintor Chagall

 

Envolvendo as casas ainda

o ar seco das florestas,

a baga inebriante e o musgo da terra.

E a noite caindo nuvem

sobre Witebsk, ecoando das

suas próprias trevas. Lá dentro

um riso ralo, com o antepassado

a espreitar do telhado

para o dia da boda.

 

E nós suspensos de sonhos.

Mas o seguro passou

pelos astros da terra dos nossos pais,

barbudo, como anjos, e de boca tremente,

com asas de searas de trigo:

 

Proximidade do futuro, este

escaldante som de trompas

quando anoitece, a cidade

à deriva em castelos de nuvens,

vermelha.

 

Referência:

 

BOBROWSKI, Johannes. Die heimat des malers Chagall / A pátria do pintor Chagall. Tradução de João Barrento. In: __________. Como um respirar: antologia poética. Edição bilíngue. Selecção, tradução introdução e notas de João Barrento. Lisboa, PT: Edições Cotovia, 1990. Em alemão: p. 28; em português: p. 29.

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