Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

José Régio - Natal

Com sete quadras compostas por versos de distintas quantidades de sílabas poéticas, todas rimadas contudo, Régio relembra o número de dias da semana em que Deus teria criado o universo, associando tal fato ao nascimento de uma criança que, a cada ano, refaz o seu mundo numa caverna onde o ato mesmo de manifestar-se revela-se eterno.

Nota-se a translação do que se passa no presépio à escala de toda a humanidade, sustentado-a sob um sol de verdade e fé, em oferta contínua de luz para fulminar os meandros mais sombrios que a alguns atingem, vez por outra, trazendo-os, enquanto ovelhas desencaminhadas, ao grande corpo das muitas outras ovelhas que não se desgarraram.

J.A.R. – H.C.

José Régio
(1901-1969)

Natal

Nascença Eterna,
Nasce mais uma vez!
Refaz a humílima Caverna
Que nunca se desfez.

Distância Transcendente,
Chega-te, uma vez mais,
Tão perto que te aqueças, como a gente,
No bafo dos obscuros animais.

Os que te dizem não,
Os épicos do absurdo,
Que afirmarão, na sua negação,
Senão seu olho cego, ouvido surdo?

Infelizes supremos,
Com seu fracasso alcançam nomeada,
E contentes se atiram aos extremos
Do seu nada.

Na nossa ambiguidade,
Somos piores, nós, talvez,
E uns e outros só vemos a verdade
Que, Verdade de Sempre!, tu nos dês.

Se nada tem sentido sem a fé
No seu sentido, Sol que não te apagas,
Rompe mais uma vez na noite, que não é
Senão o dia de outras plagas.

Perpétua Luz, Contínua Oferta
À nossa escuridade interna,
Abre-te, Porta sempre aberta,
Mais uma vez, na humílima Caverna.

Em: “Colheita da Tarde” (1971)
(Volume póstumo)

Cena da Natividade
Detalhe
(Bernardinus Indisur: artista italiano)

Referência:

RÉGIO, José. Natal. In: __________. Antologia. Seleção e organização de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1985. p. 266-267.


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