Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Elizabeth Jennings - A Anunciação

Jennings imagina o estado de uma mulher que, em meio a uma sociedade presumivelmente de valores tradicionais, engravida por uma concepção sobrenatural – e como os seus pares passariam a olhá-la: decerto de uma forma nada condescendente.

Trata-se, como se pode constatar, de um poema moldado com o imaginário imediato das artes visuais, a pintura em especial – se não for de quadros da Renascença italiana! –, muito embora, é claro, nele constem hipotéticos pensamentos que teriam passado pela cabeça de Maria em tais circunstâncias, impossíveis de serem retratados numa pintura!

J.A.R. – H.C.

Elizabeth Jennings
(1926-2001)

The Annunciation

Nothing will ease the pain to come
Though now she sits in ecstasy
And lets it have its way with her.
The angel’s shadow in the room
Is lightly lifted as if he
Had never terrified her there.

The furniture again returns
To its old simple state. She can
Take comfort from the things she knows
Though in her heart new loving burns
Something she never gave to man
Or god before, and this god grows

Most like a man. She wonders how
To pray at all, what thanks to give
And whom to give them to. “Alone
To all men’s eyes I now must go”
She thinks, “And by myself must live
With a strange child that is my own”.

So from her ecstasy she moves
And turns to human things at last
(Announcing angels set aside).
It is a human child she loves
Though a god stirs beneath her breast
And great salvations grip her side.

A Anunciação
(Pierre-Auguste Pichon: pintor francês)

A Anunciação

Nada há de atenuar a dor que virá,
Embora agora ela se sinta em êxtase
E permita que assim ocorra consigo.
A sombra do anjo um tanto erguida
Acomoda-se no recinto, como se ali
Jamais a houvesse induzido a temer.

Recompõe-se o mobiliário de novo
À sua prévia e habitual simplicidade.
Pode alentar-se com tudo que sabe,
Embora em seu peito o novo amor
Insufle algo que ela nunca dedicara
A homem ou deus. E a um homem

Mais se parece esse deus. Indaga-se
Como orar plenamente, que graças
Dar e a quem. “Aos olhos de todos
Os homens devo agora virar-me só”,
Pensa ela, “E desveladamente hei de  
Viver com minha estranha criança”.

Então de seu êxtase ela se distancia
E dedica-se enfim às coisas humanas
(Anjos a anunciar agora já ausentes).
É um bambino humano que venera,
Mas é um deus que lhe bole o peito
E a seu lado atrai grandes salvações.

Referência:

JENNINGS, Elizabeth. The annunciation. In: HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 17. (‘Everyman’s Library: Pocket Poets’)


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