Jennings imagina o estado de uma mulher que, em meio a uma sociedade presumivelmente
de valores tradicionais, engravida por uma concepção sobrenatural – e como os
seus pares passariam a olhá-la: decerto de uma forma nada condescendente.
Trata-se, como se pode constatar, de um poema moldado com o imaginário
imediato das artes visuais, a pintura em especial – se não for de quadros da
Renascença italiana! –, muito embora, é claro, nele constem hipotéticos
pensamentos que teriam passado pela cabeça de Maria em tais circunstâncias,
impossíveis de serem retratados numa pintura!
J.A.R. – H.C.
Elizabeth Jennings
(1926-2001)
The Annunciation
Nothing will ease the
pain to come
Though now she sits
in ecstasy
And lets it have its
way with her.
The angel’s shadow in
the room
Is lightly lifted as
if he
Had never terrified
her there.
The furniture again
returns
To its old simple
state. She can
Take comfort from the
things she knows
Though in her heart
new loving burns
Something she never
gave to man
Or god before, and
this god grows
Most like a man. She
wonders how
To pray at all, what
thanks to give
And whom to give them
to. “Alone
To all men’s eyes I
now must go”
She thinks, “And by
myself must live
With a strange child
that is my own”.
So from her ecstasy
she moves
And turns to human
things at last
(Announcing angels
set aside).
It is a human child
she loves
Though a god stirs
beneath her breast
And great salvations
grip her side.
A Anunciação
(Pierre-Auguste
Pichon: pintor francês)
A Anunciação
Nada há de atenuar a
dor que virá,
Embora agora ela se
sinta em êxtase
E permita que assim
ocorra consigo.
A sombra do anjo um
tanto erguida
Acomoda-se no recinto,
como se ali
Jamais a houvesse
induzido a temer.
Recompõe-se o
mobiliário de novo
À sua prévia e
habitual simplicidade.
Pode alentar-se com
tudo que sabe,
Embora em seu peito o
novo amor
Insufle algo que ela
nunca dedicara
A homem ou deus. E a
um homem
Mais se parece esse deus.
Indaga-se
Como orar plenamente,
que graças
Dar e a quem. “Aos
olhos de todos
Os homens devo agora virar-me
só”,
Pensa ela, “E desveladamente
hei de
Viver com minha
estranha criança”.
Então de seu êxtase
ela se distancia
E dedica-se enfim às
coisas humanas
(Anjos a anunciar agora
já ausentes).
É um bambino humano
que venera,
Mas é um deus que lhe
bole o peito
E a seu lado atrai grandes
salvações.
Referência:
JENNINGS, Elizabeth. The annunciation. In:
HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 17.
(‘Everyman’s Library: Pocket Poets’)
Nenhum comentário:
Postar um comentário