Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Cecil Day-Lewis - A Árvore de Natal

O poeta, pai do ator Daniel Day-Lewis, descreve cena na qual um pai – provavelmente ele mesmo – dirige-se às suas crianças, frente a uma árvore de Natal, para revelar a forma como ela se originou e foi adornada caprichosamente para abrilhantar o grande dia.

A árvore, afirma-o Cecil, é como uma fênix sob a forma de arbusto sempre verde, uma fábula portanto, que todo ano sai do anonimato dos bosques à notoriedade das residências, vive a sua quadra e, depois regressa à terra, onde voltará a expor-se às intempéries de toda ordem.

Deduz-se, pelo que o poeta relata, tratar-se de um provável pinheiro, de conveniente tamanho, arrebatado à natureza para suportar em seus ramos e agulhas o encanto e a magia das festas de fim de ano. Obviamente, que à altura em que redigido o poema, tal era a prática, hoje quase totalmente substituída pela aquisição de árvores artificiais compradas em qualquer loja de departamentos.

J.A.R. – H.C.

Cecil Day-Lewis
(1904-1972)

The Christmas Tree

Put out the lights now!
Look at the Tree, the rough tree dazzled
In oriole plumes of flame,
Tinselled with twinkling frost fire, tasselled
With stars and moons – the same
That yesterday hid in the spinney and had no fame
Till we put out the lights now.

Hard are the nights now:
The fields at moonrise turn to agate,
Shadows are cold as jet;
In dyke and furrow, in copse and faggot
The frost’s tooth is set;
And stars are the sparks whirled out by the North
wind’s fret
On the flinty nights now.

So feast your eyes now
On mimic star and moon-cold bauble;
Worlds may wither unseen,
But the Christmas Tree is a tree of fable,
A phoenix in evergreen,
And the world cannot change or chill what its
mysteries mean
To your hearts and eyes now.

The vision dies now
Candle by candle: the tree that embraced it
Returns to its own kind,
To be earthed again and weather as best it
May the frost and the wind.
Children, it too had its hour – you will not mind
If it lives or dies now.

Árvore no largo da cidade
(Stevan Dohanos: ilustrador norte-americano)

A Árvore de Natal

Apaguem as luzes agora!
Olhem para a Árvore, a fragosa árvore a esplender
em plumas flamejantes de papa-figos,
salpicada com cintilantes lumes de geada, adornada
com estrelas e luas – a mesma
que ontem, indistinta, ocultava-se no bosque,
até que apagássemos as luzes neste momento.

As noites tornam-se inclementes nestes dias:
os campos convertem-se em ágata à saída da lua,
As sombras são frias como o jorro;
nos diques e canais, silvados e lenhos
fixam-se os dentes da geada;
e as estrelas são chispas sopradas pelo vento do norte
em voragem sobre as árduas noites da estação.

Por ora, pousem então os seus olhos sobre
as réplicas de estrelas e adornos frios como a lua;
mundos podem definhar sem serem notados,
mas a Árvore de Natal é uma árvore de fábula,
uma fênix sob a forma de arbusto sempre verde,
e o mundo não é capaz de alterar ou arrefecer
o que os seus mistérios significam
aos seus corações e olhos neste instante.

A visão já no porvir se desfaz
vela após vela: a árvore que a acalentou
regressa à sua própria espécie,
restituída outra vez à terra para resistir o melhor
que possa à geada e ao vento.
Crianças: ela também teve a sua hora –
e nenhum incômodo os importunará
se agora estiver viva ou morta.

Referência:

DAY-LEWIS, Cecil. The christmas tree. In: __________. Collected poems. 2nd impression. London, EN: Jonathan Cape with The Hogarth Press, 1961. p.


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