Nestes dois poemas, oriundos da pena de dois poetas brasileiros quase
antípodas – um é de Pernambuco e o outro, apesar de haver nascido em Minas
Gerais, viveu mais da metade de sua vida no Rio Grande do Sul –, fala-se da
própria poesia, de seus escaninhos, dos mistérios de sua criação.
Em Mota, tem-se a poesia como o broto de onde tudo surge, ou à luz das metáforas,
desde a semente, passando pela árvore, até atingir o fruto e o sumo do poema.
Em Cesar, a poesia teria origem no absurdo – isto quando o poeta não extirpa
deliberadamente a lógica dos versos (o vate se dirige às odes surrealistas?!) –,
pois não haveria qualquer mágica em sua criação.
J.A.R. – H.C.
Mauro Mota
(1911-1984)
Arte Poética
Elabora o poema como
A fruta elabora os
gomos,
A fruta elabora o
suco,
A fruta elabora a
casca,
Elabora a cor e
sobretudo
elabora a semente.
(MOTA, 2004, p. 179)
Guilhermino Cesar
(1908-1993)
Entre nós
Do absurdo a poesia
vem
se a lógica não lhe
tira as asas
– ou Vossa Mercê
espera a poesia enterrada
no abismo
de uma cartola?
Só o absurdo pode
explicar o que
a poesia jamais
acabou de escolher
o que ela não quer
achar
para continuar a ser.
(CESAR, 1977, p. 125)
Natureza-Morta com Flores
(Ambrosius Bosschaert,
o velho: pintor holandês)
Referências:
CESAR, Guilhermino. Sistema do imperfeito & outros poemas.
Porto Alegre, RS: Globo, 1977.
MOTA, Mauro. Obra Poética. Recife,
PE: Ensol, 2004.
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