Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Mauro Mota e Guilhermino Cesar - Dois poemas em uma postagem

Nestes dois poemas, oriundos da pena de dois poetas brasileiros quase antípodas – um é de Pernambuco e o outro, apesar de haver nascido em Minas Gerais, viveu mais da metade de sua vida no Rio Grande do Sul –, fala-se da própria poesia, de seus escaninhos, dos mistérios de sua criação.

Em Mota, tem-se a poesia como o broto de onde tudo surge, ou à luz das metáforas, desde a semente, passando pela árvore, até atingir o fruto e o sumo do poema. Em Cesar, a poesia teria origem no absurdo – isto quando o poeta não extirpa deliberadamente a lógica dos versos (o vate se dirige às odes surrealistas?!) –, pois não haveria qualquer mágica em sua criação.

J.A.R. – H.C.

Mauro Mota
(1911-1984)

Arte Poética

Elabora o poema como
A fruta elabora os gomos,
A fruta elabora o suco,
A fruta elabora a casca,
Elabora a cor e sobretudo
elabora a semente.

(MOTA, 2004, p. 179)

Guilhermino Cesar
(1908-1993)

Entre nós

Do absurdo a poesia
vem
se a lógica não lhe tira as asas
– ou Vossa Mercê espera a poesia enterrada
no abismo
de uma cartola?

Só o absurdo pode explicar o que
a poesia jamais acabou de escolher
o que ela não quer achar
para continuar a ser.

(CESAR, 1977, p. 125)

Natureza-Morta com Flores
(Ambrosius Bosschaert, o velho: pintor holandês)

Referências:

CESAR, Guilhermino. Sistema do imperfeito & outros poemas. Porto Alegre, RS: Globo, 1977.

MOTA, Mauro. Obra Poética. Recife, PE: Ensol, 2004. 

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