Diria que a musa do poeta – Frínia –
quase se parece à figura canonizada da Virgem Maria, tanta a afeição que lhe
dirigem os adoradores – e a quem, singelamente, Teixeira oferece apenas a
integralidade do soneto alexandrino, além de uma camélia branca para
embelezar-lhe os cabelos. Um Natal de presentes modestos, portanto.
Mas a associação de Frínia a Maria tem
algo de temerário: Frínia (Fhrynia), ao lado de Timandra, são duas messalinas
que fazem companhia ao general e orador ateniense Alcibíades, no transcorrer da
peça “Timão de Atenas” (~ 1607), do bardo William Shakespeare. Logo elas a quem
Timão destina parte do ouro que descobre quando em retiro numa caverna! E então
o leitor poderá concluir: os presentes, por sua valoração, decerto apresentaram
destinações invertidas!
J.A.R. – H.C.
Gustavo de Paula Teixeira
(1881-1937)
Busto em São Pedro
(SP)
Natal de Frínia
Um ano mais! Um ano!
Um mimo de fulgores
Que recebes de seda e
rendas entre os nastros!
Mais uma rosa aberta
em um bouquet de flores!
Mais uma estrela a
rir numa coroa de astros!
Hoje que de casaca os
teus adoradores
Se curvam aos teus
pés da cor dos alabastros,
Permite que eu
também, em versos incolores,
Te saúde, mas não –
como os demais – de rastros.
Sou pobre, não possuo
anéis de pedras raras,
Nem oiro, brocatéis,
mas, como tu me animas
Com os olhos claros,
quis beijar-te as mãos preclaras.
E com a alma a dançar
numa alegria franca,
Trouxe para o teu
colo este colar de rimas
E para o teu cabelo
uma camélia branca!
Em: “Aquarelas”
A Anunciação
(Sandro Botticelli:
pintor italiano)
Referência:
TEIXEIRA, Gustavo. Natal de Frínia. In:
__________. Poesias completas.
Prefácio de Cassiano Ricardo. São Paulo, SP: Anhambi, 1959. p. 75-76.
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