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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Gilberto Mendonça Teles - Poema de Natal

Nada de neve, serenatas ou vestimentas de Papai Noel: afinal, trata-se de um Natal bem brasileiro, com roda de samba, caldo e bebida tirada diretamente do barril. Em comum, o sentimento de que o ano termina – termina ou recomeça? –, e com todo o cansaço que se acumulou, só mesmo o recolhimento no lar, junto àqueles que nos são mais próximos.

Há quem fique eufórico, mais sensibilizado e humano. Há também os que ficam melancólicos, depressivos, estressados e mal-humorados. Tudo porque o momento, de uma forma ou de outra, parece revolver o itinerário de promessas não cumpridas e, pelo avançar dos anos, premir a todos para que elas se realizem em menor intervalo de tempo.

J.A.R. – H.C.


Gilberto Mendonça Teles
(n. 1931)

Poema de Natal

A Joaquim Inojosa


Eis outra vez o fim. Tudo termina

e os meses só se mostram no final,

no choro do menino ou da menina

e na roda de samba do Natal.


Termina ou recomeça? Quem desvenda

as imagens das horas no papel?

Mais vale acompanhar sua moenda,

beber seu caldo, decifrar seu mel


e graduar seu álcool na garrafa

ou nas tábuas de cedro do barril,

que o tempo tem seu jogo e desabafa

seu canto de mistério e pastoril.


Melhor será juntar nossos cansaços,

vestir o nosso lar de caracol

e acompanhar os íntimos compassos

do que é silêncio e amor, sob o lençol.


Assim, até o azul que vem de dentro

deste poema e desta rima em -ul

será teu mundo, que já não tem centro,

e teu caminho, já sem norte e sul.


Em: “Arte de Amar”

Luar de inverno: véspera de Natal
(George Inness: pintor norte-americano)

Referência:

TELES, Gilberto Mendonça. Poema de Natal. In: __________. Hora aberta: poemas reunidos. Organização de Eliane Vasconcellos. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 536.


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