Decerto o poeta esteve em Barcelona, Espanha, onde pôde contemplar as
obras do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926), contribuindo para este belo
“exercício poético”, capaz de alçar a imaginação até as paragens de suas “argamassas
inacabadas”, autênticas “cavernas incompletas” que pervagam pelos céus.
A propósito, em sentido inverso, a arquitetura também pode ser um
exercício poético, naquilo que for capaz de habilitar suas linhas a metaforizar
o real, provendo a sugestão, o desvario que desafia o estabelecido, induzindo –
Camões aqui parodiado – novas formas às formas, inéditos contornos e plástica,
ainda que insólitos, como os de Gaudí.
J.A.R. – H.C.
José Nêumanne Pinto
(n. 1951)
As pedras de Gaudí...
III
As pedras de Gaudí se
movem na cor,
são ondas, ramblas,
rios,
os muros de Gaudí,
palmeiras.
Antônio Gaudí planta
cal
e colhe o sol, o céu
na seara líquida
do Mediterrâneo.
O arquiteto semeia
plantas de argamassa
em pontas de papiro.
Dão frutos plenos,
sem prumo,
sons de concreto,
vida pensa.
Os ladrilhos de
Gaudí,
menos que frases,
são crases
provençais.
O velho de costas,
curvo,
um risco de carvão
sobre o branco do
papel,
letras, lascas de
luz.
Aquém do nada,
cavernas incompletas
escavam o céu.
Igreja Sagrada Família
(Barcelona – Espanha)
Antoni Gaudí
Referência:
PINTO, José Nêumanne. III. As pedras de
Gaudí... In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia
da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe.
Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 420.
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