Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de dezembro de 2018

José Nêumanne Pinto - As pedras de Gaudí...

Decerto o poeta esteve em Barcelona, Espanha, onde pôde contemplar as obras do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926), contribuindo para este belo “exercício poético”, capaz de alçar a imaginação até as paragens de suas “argamassas inacabadas”, autênticas “cavernas incompletas” que pervagam pelos céus.

A propósito, em sentido inverso, a arquitetura também pode ser um exercício poético, naquilo que for capaz de habilitar suas linhas a metaforizar o real, provendo a sugestão, o desvario que desafia o estabelecido, induzindo – Camões aqui parodiado – novas formas às formas, inéditos contornos e plástica, ainda que insólitos, como os de Gaudí.

J.A.R. – H.C.

José Nêumanne Pinto
(n. 1951)

As pedras de Gaudí...

III

As pedras de Gaudí se movem na cor,
são ondas, ramblas, rios,
os muros de Gaudí, palmeiras.
Antônio Gaudí planta cal
e colhe o sol, o céu
na seara líquida
do Mediterrâneo.
O arquiteto semeia
plantas de argamassa
em pontas de papiro.
Dão frutos plenos, sem prumo,
sons de concreto,
vida pensa.
Os ladrilhos de Gaudí,
menos que frases,
são crases provençais.
O velho de costas, curvo,
um risco de carvão
sobre o branco do papel,
letras, lascas de luz.

Aquém do nada,
cavernas incompletas
escavam o céu.

Igreja Sagrada Família
(Barcelona – Espanha)
Antoni Gaudí

Referência:

PINTO, José Nêumanne. III. As pedras de Gaudí... In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 420.

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