Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

John Stuart Mill - A injustiça social e as mulheres

Mill, pensador inglês, foi um dos primeiros defensores, no Parlamento, do sufrágio feminino. Mas esta é apenas uma das facetas em que ele se lançou em defesa dos direitos das mulheres: já na primeira metade do século XIX, dispunha-se a defender o princípio da igualdade na relação entre os sexos, pois o que, àquela altura havia na sociedade britânica, era, efetivamente, a sujeição legal das mulheres aos seus esposos.

Estavam os argumentos de Mill calcados, em grande parte, no utilitarismo de Bentham. Para ilustrá-los, selecionei duas passagens extraídas à obra “Principles of political economy with some of their applications to social philosophy”, de 1848, cuja versão ao português apresento, mais abaixo, no campo de referência.

J.A.R. – H.C.

John Stuart Mill
(1806-1873)

John Stuart Mill
(1806-1873)

Volume III. Livro Quarto. Cap. VII. § 3º. p. 116.

(...) É uma injustiça social flagrante que não haja opção, nenhuma outra carreira possível, para a grande maioria das mulheres, a não ser nos setores mais humildes da vida.

As ideias e instituições que fazem do sexo o fundamento para uma desigualdade de direitos legais, e para uma diferença forçada de funções sociais, dentro em breve terão que ser reconhecidas como sendo o maior obstáculo para o aprimoramento moral, social e até intelectual. De momento, indicarei apenas, entre as prováveis conseqüências que advirão da independência profissional e social da mulher, uma grande diminuição do mal da superpopulação. Se o instinto animal responsável pela multiplicação populacional chega a ter a preponderância desproporcional que tem exercido até agora na vida humana, isso se deve ao fato de se dedicar toda uma metade do gênero humano exclusivamente à função de esposa e mãe, fazendo com que essa função absorva a vida inteira das mulheres e interfira em quase todos os objetivos dos homens.

Mulheres trabalhando em travesseiros de renda
(A escola de costura)
(Giacomo Antonio Melchiorre Ceruti: pintor italiano)

Volume II. Livro Segundo. Cap. XIV. § 5º. p. 75-76

Merece ser examinada a razão pela qual os salários das mulheres são em geral mais baixos, e muito mais baixos, que os dos homens. Isso não ocorre em toda parte. Quando homens e mulheres trabalham no mesmo emprego, caso se trate de uma ocupação para a qual os dois têm aptidão igual em termos de força física, nem sempre recebem salário desigual.

(...) Quando a eficiência é igual, mas o salário é desigual, a única explicação que se pode dar é o costume e este, fundado no preconceito, ou na presente estrutura da sociedade, a qual, por fazer cada mulher (socialmente falando) um apêndice (75/76) do homem, possibilita aos homens apossar-se sistematicamente da parte do leão em tudo o que pertence aos dois.

Referência:

MILL, John Stuart. Princípios de economia política: com algumas de suas aplicações à filosofia social. Tradução de Luiz João Baraúna. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Coleção “Os Economistas”)

Nenhum comentário:

Postar um comentário