A despeito de não se poder afirmar que Eberhart esteja a falar de ideias
que lhe passaram pela cabeça de modo refletido ou que discorra sobre juízos e
intuições de um terceiro humanista, o fato é que o poema abaixo deixa transparecer
suficientes razões para se conjecturar numa mensagem orientada às expectativas terrenas
do ser humano, a partir da assunção de suas responsabilidades para trabalhar e
aperfeiçoar este mundo, pois o homem, em suas limitações, apenas poderá intuir
a presença de Deus, mas jamais contemplará diretamente a sua majestade – como
os versos bem o exprimem.
Há nos versos, igualmente, certa dúvida se os anos seriam capazes de trazer
retidão ou sabedoria ao ser humano, inflexão que se coloca em confronto com
ideias de – ora bem – outros tantos humanistas, como o francês Montaigne ou
mesmo o romano Cícero. Em comum com a maioria, contudo, enfatiza-se a convicção
de que o mundo só pode ter sentido na medida em que suas magníficas interconexões
possam ser percebidas, interpretadas e analisadas pela mente humana.
J.A.R. – H.C.
Richard Eberhart
(1904-2005)
The Humanist
Hunting for the truly
human
I looked for the true
man
And saw an ape at the
fair
With the circle still
to square. Learning
Breeds its own
ignorance. Fame and power
Demand a rush and
pounding.
Those who rush
through rush through, and who
Are, they but those
who rush through?
Yet truth resides in
contemplation
And comprehension of
contemplation
Not necessarily of
Plato. Action explains
A field full of folk
and golden football flexions,
Action for actors.
Truth through contemplation
Resurrects the truly
human,
Makes known the true
man
Whom these lines can
scan:
But miss his secret
final point.
The world is too much
in joint. No use
Setting that right,
that squaring, that harrying: for
The true man lives in
mystery
Of God; God his agile
soul will see
But he will not see
God’s majesty,
And that is what
makes you and me
Whether man or woman
Neither true nor free
But truly human.
Símios na taverna
(David Teniers:
pintor flamengo)
O Humanista
À busca do autenticamente
humano,
Procurei o verdadeiro
homem,
E vi um símio na
feira
Com o círculo ainda a
esquadrinhar. A aprendizagem
Engendra a sua
própria ignorância. A fama e o poder
Exigem disparadas e
colisões.
Há os que se apressam
e apressam, e quem seriam
Eles, senão aqueles
que se apressam em toda parte?
No entanto, a verdade
reside na contemplação
E na compreensão da
contemplação,
Não necessariamente
platônica. A ação explica
Um domínio cheio de
flexões futebolísticas,
folclóricas e preciosas,
A ação pelos atores. A
verdade pela contemplação
Ressuscita o autenticamente
humano,
Torna conhecido o
verdadeiro homem
A quem estes versos são
capazes de perscrutar:
Mas não de deduzir o
seu secreto ponto final.
O mundo é por demais articulado.
De nada serve
Assentar esse
direito, essa quadratura, esse incômodo:
Pois o verdadeiro
homem vive no mistério
De Deus; Deus, sua
ágil alma será capaz de ver,
Mas ele não verá a majestade
de Deus,
E isso é o que nos
faz a ti e a mim,
Quer seja homem quer
mulher,
Nem verdadeiros nem
livres,
Mas autenticamente
humanos.
Referência:
EBERHART, Richard. The humanis. In: RODMAN,
Selden (Ed.). An new anthology of modern
poetry. New York, NY: Random House Inc., 1946. p. 326. (“The Modern
Library”)
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