Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de dezembro de 2018

Richard Eberhart - O Humanista

A despeito de não se poder afirmar que Eberhart esteja a falar de ideias que lhe passaram pela cabeça de modo refletido ou que discorra sobre juízos e intuições de um terceiro humanista, o fato é que o poema abaixo deixa transparecer suficientes razões para se conjecturar numa mensagem orientada às expectativas terrenas do ser humano, a partir da assunção de suas responsabilidades para trabalhar e aperfeiçoar este mundo, pois o homem, em suas limitações, apenas poderá intuir a presença de Deus, mas jamais contemplará diretamente a sua majestade – como os versos bem o exprimem.

Há nos versos, igualmente, certa dúvida se os anos seriam capazes de trazer retidão ou sabedoria ao ser humano, inflexão que se coloca em confronto com ideias de – ora bem – outros tantos humanistas, como o francês Montaigne ou mesmo o romano Cícero. Em comum com a maioria, contudo, enfatiza-se a convicção de que o mundo só pode ter sentido na medida em que suas magníficas interconexões possam ser percebidas, interpretadas e analisadas pela mente humana.

J.A.R. – H.C.

Richard Eberhart
(1904-2005)

The Humanist

Hunting for the truly human
I looked for the true man
And saw an ape at the fair
With the circle still to square. Learning
Breeds its own ignorance. Fame and power
Demand a rush and pounding.
Those who rush through rush through, and who
Are, they but those who rush through?
Yet truth resides in contemplation
And comprehension of contemplation
Not necessarily of Plato. Action explains
A field full of folk and golden football flexions,
Action for actors. Truth through contemplation
Resurrects the truly human,
Makes known the true man
Whom these lines can scan:
But miss his secret final point.
The world is too much in joint. No use
Setting that right, that squaring, that harrying: for
The true man lives in mystery
Of God; God his agile soul will see
But he will not see God’s majesty,
And that is what makes you and me
Whether man or woman
Neither true nor free
But truly human.

Símios na taverna
(David Teniers: pintor flamengo)

O Humanista

À busca do autenticamente humano,
Procurei o verdadeiro homem,
E vi um símio na feira
Com o círculo ainda a esquadrinhar. A aprendizagem
Engendra a sua própria ignorância. A fama e o poder
Exigem disparadas e colisões.
Há os que se apressam e apressam, e quem seriam
Eles, senão aqueles que se apressam em toda parte?
No entanto, a verdade reside na contemplação
E na compreensão da contemplação,
Não necessariamente platônica. A ação explica
Um domínio cheio de flexões futebolísticas,
folclóricas e preciosas,
A ação pelos atores. A verdade pela contemplação
Ressuscita o autenticamente humano,
Torna conhecido o verdadeiro homem
A quem estes versos são capazes de perscrutar:
Mas não de deduzir o seu secreto ponto final.
O mundo é por demais articulado. De nada serve
Assentar esse direito, essa quadratura, esse incômodo:
Pois o verdadeiro homem vive no mistério
De Deus; Deus, sua ágil alma será capaz de ver,
Mas ele não verá a majestade de Deus,
E isso é o que nos faz a ti e a mim,
Quer seja homem quer mulher,
Nem verdadeiros nem livres,
Mas autenticamente humanos.

Referência:

EBERHART, Richard. The humanis. In: RODMAN, Selden (Ed.). An new anthology of modern poetry. New York, NY: Random House Inc., 1946. p. 326. (“The Modern Library”)

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