Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 1 de dezembro de 2018

François Coppée - Dezembro

Aproxima-se o ano do fim e a coruja pia entre os escombros. As lembranças lancinantes que se firmaram no coração do poeta projetam ainda suas sombras. Mas para o futuro, o que o voo da ave pressagia: dias brilhantes ou jornadas penumbrosas?

Para um amor tão atribulado, no primeiro terceto do soneto, formula Coppée uma oportuna asserção que bem lhe assenta: “Quantas lágrimas por um beijo; quantos espinhos por uma rosa!”. E conclui: morrer deve mesmo ser um nada, basta ver o tão pouco que representa a vida!

J.A.R. – H.C.

François Coppée
(1842-1908)
Litografia de Félix Vallotton

Décembre

Le hibou parmi les décombres
Hurle, et Décembre va finir;
Et le douloureux souvenir
Sur ton cœur jette encor ses ombres.

Le vol de ces jours que tu nombres,
L’aurais-tu voulu retenir?
Combien seront, dans l’avenir,
Brillants et purs; et combien, sombres?

Laisse donc les ans s’épuiser.
Que de larmes pour un baiser,
Que d’épines pour une rose!

Le temps qui s’écoule fait bien;
Et mourir ne doit être rien,
Puisque vivre est si peu de chose.

Dezembro: Gloucester
(Paul Cornoyer: pintor norte-americano)

Dezembro

Dezembro entre gelos finda...
Pia o mocho! que saudade!
Que fundo sentir! que infinda
Tristeza teu seio invade?!

Não queiras reter o escuro
Curso veloz desses dias;
Quantos serão, no futuro,
De dor! quantos de alegrias!

Deixa que escoem-se os anos!
Num beijo – que desenganos!
Que espinhos numa só flor!

Morra-se embora, querida;
Que importa a morte, se a vida
Se a vida não tem valor?!

(20 de maio de 1881)

Referência:

COPPÉE, François. Décembre / Dezembro. Tradução de Raimundo Correia. In: ‎‎__________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. ‎‎II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, ‎‎1948. Em francês: p. 455; em português: p. 381.

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