Aproxima-se o ano do fim e a coruja pia entre os escombros. As
lembranças lancinantes que se firmaram no coração do poeta projetam ainda suas
sombras. Mas para o futuro, o que o voo da ave pressagia: dias brilhantes ou jornadas
penumbrosas?
Para um amor tão atribulado, no primeiro terceto do soneto, formula
Coppée uma oportuna asserção que bem lhe assenta: “Quantas lágrimas por um
beijo; quantos espinhos por uma rosa!”. E conclui: morrer deve mesmo ser um
nada, basta ver o tão pouco que representa a vida!
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Litografia de Félix Vallotton
Décembre
Le hibou parmi les
décombres
Hurle, et Décembre va
finir;
Et le douloureux
souvenir
Sur ton cœur jette
encor ses ombres.
Le vol de ces jours
que tu nombres,
L’aurais-tu voulu
retenir?
Combien seront, dans
l’avenir,
Brillants et purs; et
combien, sombres?
Laisse donc les ans
s’épuiser.
Que de larmes pour un
baiser,
Que d’épines pour une
rose!
Le temps qui s’écoule
fait bien;
Et mourir ne doit
être rien,
Puisque vivre est si
peu de chose.
Dezembro: Gloucester
(Paul Cornoyer:
pintor norte-americano)
Dezembro
Dezembro entre gelos
finda...
Pia o mocho! que
saudade!
Que fundo sentir! que
infinda
Tristeza teu seio
invade?!
Não queiras reter o
escuro
Curso veloz desses
dias;
Quantos serão, no
futuro,
De dor! quantos de
alegrias!
Deixa que escoem-se
os anos!
Num beijo – que
desenganos!
Que espinhos numa só
flor!
Morra-se embora,
querida;
Que importa a morte,
se a vida
Se a vida não tem
valor?!
(20 de maio de 1881)
Referência:
COPPÉE, François. Décembre / Dezembro.
Tradução de Raimundo Correia. In: __________.
Poesias completas de Raimundo Correia.
Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora
Nacional, 1948. Em francês: p. 455; em português: p. 381.
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