Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de junho de 2018

William Carlos Williams - Navegante

WCW contrasta o mar frio com uma paixão ardente do marinheiro que o desafia: este é como a rocha, quase se deliciando com a tempestade, que não se convola em medos, senão em aguilhões de êxtase, uma espécie de secreto licor, que lhe incita fogo ao sangue, levando-o a atirar-se sobre as águas, para “agarrar navios”.

A vida é muito assim, qual jogo de murros em pontas de faca, com incidentes que desafiam o mais acurado planejamento. Cabe-nos levá-la como naquele excerto da música interpretada pela cantora Maria Bethânia, em composição de Guilherme Arantes: “Você verá que é mesmo assim / que a história não tem fim / continua sempre que você responde ‘sim’ à sua imaginação / a arte de sorrir / cada vez que o mundo diz ‘não’!” (“Brincar de Viver”).

J.A.R. – H.C.

William Carlos Williams
(1883-1963)

Seafarer

The sea will wash in
but the rocks-jagged ribs
riding the cloth of foam
or a knob or pinnacles
with gannets –
are the stubborn man.

He invites the storm, he
lives by it! instinct
with fears that are not fears
but prickles of ecstacy,
a secret liquor, a fire
that inflames his blood
to coldness so that the rocks
seem rather to leap
at the sea than the sea
to envelope them. They strain
forward to grasp ships
or even the sky itself that
bends down to be torn
upon them. To which he says,
It is I! I who am the rocks!
Without me nothing laughs.

Navegante
(Karin Jurick: artista norte-americana)

Navegante

O mar virá escavar
mas as rochas – arestas denteadas
a cavaleiro da toalha de espuma
ou uma corcova ou então pináculos
com mergulhões –
são o homem pertinaz.

Ele provoca a tempestade, ele
vive por ela! repassado
de temores que não são temores
mas aguilhões de êxtase,
um álcool secreto, um fogo
que lhe inflama o sangue até
a frieza pelo que as rochas
mais parecem lançar-se
sobre o mar do que o mar
envolvê-las. Estiram-se
no esforço de agarrar navios
ou até o próprio céu que
se debruça para ser despedaçado
sobre elas. Ao que ele diz,
Sou eu! Eu é que sou as rochas!
Sem mim nada se ri.

Referência:

WILLIAMS, William Carlos. Seafarer / Navegante. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 180; em português: p. 181.

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