WCW contrasta o mar frio com uma paixão ardente do marinheiro que o
desafia: este é como a rocha, quase se deliciando com a tempestade, que não se
convola em medos, senão em aguilhões de êxtase, uma espécie de secreto licor,
que lhe incita fogo ao sangue, levando-o a atirar-se sobre as águas, para
“agarrar navios”.
A vida é muito assim, qual jogo de murros em pontas de faca, com
incidentes que desafiam o mais acurado planejamento. Cabe-nos levá-la como
naquele excerto da música interpretada pela cantora Maria Bethânia, em
composição de Guilherme Arantes: “Você verá que é mesmo assim / que a história
não tem fim / continua sempre que você responde ‘sim’ à sua imaginação / a arte
de sorrir / cada vez que o mundo diz ‘não’!” (“Brincar de Viver”).
J.A.R. – H.C.
William Carlos Williams
(1883-1963)
Seafarer
The sea will wash in
but the rocks-jagged
ribs
riding the cloth of
foam
or a knob or
pinnacles
with gannets –
are the stubborn man.
He invites the storm,
he
lives by it! instinct
with fears that are
not fears
but prickles of
ecstacy,
a secret liquor, a
fire
that inflames his
blood
to coldness so that
the rocks
seem rather to leap
at the sea than the
sea
to envelope them.
They strain
forward to grasp
ships
or even the sky itself
that
bends down to be torn
upon them. To which
he says,
It is I! I who am the
rocks!
Without me nothing
laughs.
Navegante
(Karin Jurick:
artista norte-americana)
Navegante
O mar virá escavar
mas as rochas –
arestas denteadas
a cavaleiro da toalha
de espuma
ou uma corcova ou
então pináculos
com mergulhões –
são o homem pertinaz.
Ele provoca a
tempestade, ele
vive por ela!
repassado
de temores que não
são temores
mas aguilhões de
êxtase,
um álcool secreto, um
fogo
que lhe inflama o
sangue até
a frieza pelo que as
rochas
mais parecem
lançar-se
sobre o mar do que o
mar
envolvê-las.
Estiram-se
no esforço de agarrar
navios
ou até o próprio céu
que
se debruça para ser
despedaçado
sobre elas. Ao que
ele diz,
Sou eu! Eu é que sou
as rochas!
Sem mim nada se ri.
Referência:
WILLIAMS, William Carlos. Seafarer /
Navegante. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de José Paulo Paes.
Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1987. Em inglês: p. 180;
em português: p. 181.
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