Um poema curto do autor nicaraguense,
mas que diz muito sobre a enorme potência visual que a escultura projeta em uma
das escadarias do Museu do Louvre, em Paris. Digo melhor: Darío concebe-a
inteira, com olhos, boca e braços, para que se possam imaginar também os
efeitos sonoros e dinâmicos de sua figura, na proa de uma embarcação,
originariamente pertencente a uma fonte que, por hipótese, foi erigida como
monumento comemorativo a uma vitória em batalha naval.
Como se pode ver na imagem sob o poema,
as linhas fluidas do vestuário são retratadas com apurado virtuosismo, ainda
mais realçadas pela pose enfática e teatral de Nice – a deusa grega
representada –, que parecer voar para levar aos helenos em terra a mensagem dos
êxitos obtidos sobre o mar.
J.A.R. – H.C.
La Victoria de Samotracia
La cabeza abolida aún
dice el día sacro
en que, al viento del
triunfo, las multitudes plenas
desfilaron ardientes
delante el simulacro
que hizo hervir a los
griegos en las calles de Atenas.
Esta egregia figura
no tiene ojos y mira;
no tiene boca, y
lanza el más supremo grito;
no tiene brazos y
hace vibrar toda la lira,
¡y las alas pentélicas
abarcan lo infinito!
(Barcelona, 21.1.1914)
A Vitória de Samotrácia
A cabeça abolida diz
ainda o dia sacro
em que, ao vento do
triunfo, as multidões helenas
desfilaram ardentes
diante do simulacro
que fez ferver os
gregos pelas ruas de Atenas.
Esta egrégia figura
não tem olhos e mira;
boca não tem, e lança
o mais supremo grito;
não tem braços e faz
vibrar inteira a lira,
e co’as asas
pentélicas abarca o infinito!
(Barcelona, 21.1.1914)
Referência:
DARÍO, Rúben. La victoria de Samotracia
/ A vitória de Samotrácia. Tradução de Anderson Braga Horta. In: HORTA,
Anderson Braga. Traduzir poesia. Brasília,
DF: Thesaurus, 2004. Em espanhol: p. 84; em português: p. 85.
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