Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Léo Lynce - Babel ‎

O poeta, cujo nome real era Cyllenéo Araújo, emprega a metáfora bíblica da torre de Babel – esse zigurate que não logrou chegar ao objetivo intentado pelos filhos de Noé –, para dizer-se incompreendido em sua própria terra, pois lhe parece que são distintos os idiomas que emprega e aquele em que se comunicam os seus pares.

 

Ora ora, se o poeta é Cileneu, deveria fazer jus aos atributos de Mercúrio, tornando-se um mensageiro mais acurado dos deuses do Parnaso, ou por outra, igualar-se a Hermes, pela interpretação das mensagens das musas, trazendo-as ao entendimento circunscrito dos comuns mortais (rs).

 

J.A.R. – H.C.

 

Léo Lynce

(1884-1954)

Bico de pena de Amaury Menezes

 

Babel

 

Louco intento dos filhos de Noé:

por arcadas de sólida estrutura

suspensa, enorme, colossal, de pé,

a torre avulta, aos céus em direitura.

 

E avulta e cresce e sobe mais, até

que do possível Deus limita a altura.

Entre as raças de Sem, Cã e Jafé

a língua primitiva se mistura.

 

Muito alto pus o ideal – outra Babel –

e desde então vagueio, incompreendido

da turba aos encontrões, no seu tropel,

 

de pouso em pouso, por vaiado ou serra,

sem que ninguém me entenda um só gemido,

– estrangeiro na minha própria terra!

 

A Torre de Babel

(Pieter Bruegel, o Velho: pintor flamengo)

 

Referência:

 

LYNCE, Léo. Babel. In: __________. Poesia quase completa. Goiânia, GO: Editora da UFG, 1997. p. 187.

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