O poeta, cujo nome
real era Cyllenéo Araújo, emprega a metáfora bíblica da torre de Babel – esse
zigurate que não logrou chegar ao objetivo intentado pelos filhos de Noé –,
para dizer-se incompreendido em sua própria terra, pois lhe parece que são
distintos os idiomas que emprega e aquele em que se comunicam os seus pares.
Ora ora, se o poeta é
Cileneu, deveria fazer jus aos atributos de Mercúrio, tornando-se um mensageiro
mais acurado dos deuses do Parnaso, ou por outra, igualar-se a Hermes, pela
interpretação das mensagens das musas, trazendo-as ao entendimento circunscrito
dos comuns mortais (rs).
J.A.R. – H.C.
Léo Lynce
(1884-1954)
Bico de pena de Amaury Menezes
Babel
Louco intento dos filhos de Noé:
por arcadas de sólida estrutura
suspensa, enorme, colossal, de pé,
a torre avulta, aos céus em direitura.
E avulta e cresce e sobe mais, até
que do possível Deus limita a altura.
Entre as raças de Sem, Cã e Jafé
a língua primitiva se mistura.
Muito alto pus o ideal – outra Babel –
e desde então vagueio, incompreendido
da turba aos encontrões, no seu tropel,
de pouso em pouso, por vaiado ou serra,
sem que ninguém me entenda um só gemido,
– estrangeiro na minha própria terra!
A Torre de Babel
(Pieter Bruegel, o Velho: pintor flamengo)
Referência:
LYNCE, Léo. Babel.
In: __________. Poesia quase completa. Goiânia, GO: Editora da UFG,
1997. p. 187.
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